Acostumados a jogar a culpa de todas as mazelas nacionais na classe política, por razões sabidamente justificáveis, erramos ao deixar de prestar muita atenção, e valorizar, alertas e teses interessantes avalizadas por eles. Recentemente, dois exemplos merecem análises isentas de preconceitos, aversão ou intolerância. O presidente da Câmara Eduardo Cunha ( PMDB) afirmou que os petistas são desagregadores, “o PT não tem amigos, tem servos. Não tem adversários, tem inimigos.” O vice-presidente Michael Temer (PMDB) alertou que o governo não deve se “impressionar negativamente” com os protestos. Segundo ele, é preciso “aplaudir o movimento como um incentivador de soluções que talvez não viessem.”
Não importam os defeitos, erros ou incorreções de caráter dos protagonistas, o recado é importantíssimo. Urge ao PT mudar a fórmula surrada. Não dá mais para menosprezar a inteligência coletiva, com arroubos infantis e bizarrices, como fez o parlamentar Simbá ao dizer que a culpa é da CIA e capitaneada pelo Tio Sam. Até o mais inocente dos escoteiros sabe que não interessa aos Estados Unidos destruir os pilares de um parceiro que acolhe uma babel de empresas norte americanas.
Essa ideia fixa, anacrônica e própria das ditaduras, em apontar um inimigo externo para os erros administrativos e econômicos, cabe ao beócio do Nicolás Maduro, não a um País com instituições consolidadas. O caráter desagregador, mencionado por Eduardo Cunha, se confirma na prática com teses rotulando quem reclama de ser elite golpista, como se não tivesse direito de chiar porque pertence a um estrato social diferente.
Convenhamos, alerte-se PT, existem razões lúcidas para descontentamento com a imoralidade do governo, no poder a 13 anos, justificando um bom motivo para expressar indignação. Além disso, é preciso levar com consideração a gravidade do mensalão, petróleo. Sejamos honestos, o PT não pode continuar utilizando-se de quaisquer meios para justificar seus objetivos, mesmo aqueles que são reconhecidamente nobres e capazes de auxiliar milhões de brasileiros. A história comprova que essa visão nunca deu certo.
A CIA, os banqueiros, a elite branca, os broncos que clamam a volta dos militares, jamais conseguiriam aglutinar tanta ira quanto o descontentamento com a violência, falta de médicos e hospitais, perda de direitos trabalhistas, brutal aumento das tarifas de energia, péssimas condições do ensino público, todos já sofreram com essas mazelas nacionais. Responsabilidade de quem? Da CIA? Seria Dilma uma agente infiltrada?
O grito das ruas, acerta Michel Temer, se presta a corrigir distorções que podem se perpetuar. Quais? Muitas. A mais visível no momento é a aberração de 39 ministérios, criados para untar o umbigo de gente ordinária e sem capacidade. Ou seja: o sacrifício não pode ser apenas da classe trabalhadora.
No arremate, é sempre bom lembrar, os arautos do PT hoje representam uma casta econômica. Eles serão poupados de tanque vazio para falta de verba, da incapacidade de comprar materiais escolares e mazelas que afetam a população. Essa que tentam espalhar que são “eles” (os atrasados, egoístas e etc) contra “nós do PT” (modernos, avançados e ao lado do povão). Colossal erro de avaliação.
Dirigentes petistas esqueçam o viés ideológico. Ele não permeia o cotidiano de quem amarga a maior carga tributária do planeta, de longe a mais injusta e mal aplicada, estamos incomodados com o pão. Chega de circo. Porque ele está prestes a pegar fogo.
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