Segundo a fecunda escritora espírita Zibia Gasparetto, “o segredo da felicidade é escolher a comédia e largar o drama”. Normalmente compenetrados em suas ações da ciência médica, os profissionais do admirado complexo hospitalar Albert Einstein, usaram a máxima da escritora no atendimento ao presidente Jair Bolsonaro. Difícil entender porque abandonaram a bula do bom senso.
Está certo que é válida a ideia de ser feliz e alardear sucesso para espantar todas as urucubacas negativas. Mas qualquer estudante mediano sabe, como regra básica, que não se pode comprometer o tratamento do paciente, mesmo que as medidas de prevenção possam lhe causar um gosto amargo.
Esse cardápio vale tanto para os poderosos como para o gentio. O caso do capitão, envolvendo uma operação delicada, uma equação cirúrgica de altíssimo risco e uma responsabilidade redobrada, não devia permitir erros grotescos que causam espanto.
Registra-se que a reversão da bolsa de colostomia aconteceu em tempo recorde. Mas vá lá. Respeita-se a experiência de uma equipe tarimbada. O que vem depois, mesmo em se tratando da nata da medicina, merece uma reavaliação. Ao permitir que, nas primeiras horas pós-cirúrgica, os aposentos do paciente fossem submetidos a um confete de documentos, que passaram por diversas mãos, levados por uma corte de assessores e suas bactérias de estimação, a tragicomédia tomou conta do palco.
Se o todo poderoso mandatário não tem juízo. E exigiu manter o circo da temeridade. Esperava-se que a equipe tivesse a necessária firmeza. Mesmo indócil, com o poder da coroa de um reinado iniciante, tinha que respeitar regras hospitalares. Para o seu próprio bem. Ponto final.
Felizmente, apesar da exposição do paciente a fotos, reuniões, exercícios registrados e todo um carnaval midiático para atender motivos políticos, afagar egos e ajustar cacos típicos do poder que hipnotiza, parece que a opera bufa vai terminar bem. Será?
Para a todas as honras, inclusive dos especialistas, do hospital e da nação, espero que sim. Mas é de se lamentar que a classe médica, incluindo aqui o Conselho Federal de Medicina e Conselho Regional, não tenham emitido sequer um sinal amarelo. Recuperando a saúde, o episódio será apenas mais uma proeza do militar exigente. Se der zebra, anotem, as críticas serão jogadas no ventilador e reputações serão questionadas.
Rosenwal Ferreira
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