Numa dessas coincidências do destino, alguns dias antes de explodir as notícias sobre a epidemia, eu entrevistei, no programa Show da manhã, na rádio Jovem Pan, um especialista em transações comerciais com a China.
Na ocasião, fui ao nirvana descobrindo o quanto era produtivo interagir com a outrora dinastia Qing. Literalmente um negócio da China.
No desdobramento das notícias, que oscilavam entre o bombástico e o assustador, prestei mais atenção na capacidade da ditadura capitalista construir milhares de leitos hospitalares, como se fossem crianças brincando de lego, do que no efeito nocivo da enfermidade.
No meu tosco, envergonhado e censurável subconsciente, uma nação com bilhões de almas, podia se dar ao luxo de brincar com a morte. Era um problema deles. Confesso que, inicialmente, só me afetou o ânimo em visitar o País.
Será que fui o único – sou réu confesso num preconceito a ser corrigido – que nutriu superficial empatia pelas vítimas chinesas? Atrevo-me a afirmar que, provavelmente, não.
Quando de forma gananciosa o vírus deslizou pela Champs elysées, entrando sem reservas nos restaurantes parisienses que frequentei, e, foi bater na porta de amigos assustados e ousou entrar na capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, local em que o dileto amigo Padre Cesar, realizou um belíssimo sermão para o deleite de franceses e um grupo de goianos do qual fazia parte, exclamei na hora: “merde”. Apesar da boa referência, quando se usa o termo para desejar sorte nas peças de teatro, a estreia era prenúncio de desastre.
Os italianos, ao que parece tão ingênuos quanto eu, disseram: “entrambi sappiano che questa merda biológica non lascerá la cittá.”
Foi ao contrário, a desgraça não apenas saiu como um foguete de Paris, como entrou triunfante em Roma, Firenze, Veneza e demais regiões, deixando um rastro de prejuízos econômicos, dor e morte.
Foi um Deus nos acuda, logo o mundo se tocou que a China estava na garagem do condomínio. Daí para frente Trump se apressou em fechar os elevadores, alguns países impediram a comunicação entre os andares e muitos até pensam em pular da janela.
No Brasil, mais especificamente em Goiânia, o coronavírus chegou. Meu encontro com ele, num simbolismo impactante, foi quando minhas adoráveis filhas, inocentes crianças de sete anos, chegaram em casa alertando que devíamos evitar abraços e beijos. Egoísmo ou não, foi o que me tocou mais de perto. Cada um terá sua própria história. Mas esse filho da puta tem que ser contido. Farei o esforço que for necessário para isso. E você?
Rosenwal Ferreira
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