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Padre Luis Augusto, o moralista desmoralizado?

         Segundo o escritor Adaildes Alves Moreira, “honestidade prega justiça, uma pessoa completamente correta, não tem que ser santa, tem que ser correta mesmo, conseguir algo com seus esforços.” Para muitos  fiéis da igreja católica, o Padre Luis Augusto Ferreira é uma espécie de Madre Tereza do cerrado. Suas obras de caridade, numa reconhecida defesa dos indigentes, assim como sua verve no púlpito com sermões de elevadíssimo cunho moral, justificam sua reputação.

         Seria uma injustiça duvidar de seus propósitos qualificados. Mas é bom lembrar que o caldeirão do inferno, segundo a crença popular, está transbordando de pessoas com boas intenções.

      Moralista extremado, ao ponto de criticar seus colegas de batina que adotam posições mais liberais, e se lançar numa cruzada contra a divulgação de casas noturnas que apresentam shows de nudez, o Padre Luiz sempre deu ares de pairar acima das águas que afligem a babel de pecadores.

        Diante desse contexto, foi um choque ler a matéria, de página inteira, publicada no jornal O Popular dia 05 de março, demonstrando que o Padre é funcionário fantasma da Assembleia há 20 anos. Ele afirmou na entrevista que não sabe quanto ganha e não usa o dinheiro. Mas os dados confirmam que ele recebe um salário de onze mil e oitocentos reais mensais.

        O Padre Luis garante que nunca utilizou a  grana, que aceitou o benefício para garantir o plano de saúde do Ipasgo e que pretende usar  o que foi acumulado no banco, durante décadas, para construir uma creche. Acredito nele.

        Mas não é possível varrer para debaixo do tapete o lado moral e o senso ético que envolve o imbróglio. Receber sem trabalhar, seja qual for o motivo, está errado. Sob todos os aspectos o Padre Luiz cometeu um grave deslize. Se um sacerdote, com sua bíblica importância, enrosca na equação de que os fins justificam os meios, torna-se inviável pregar sermões e exigir probidade.

      O dinheiro do contribuinte se presta a contratar pessoas que vão exercer a função. O cargo de analista legislativo não pode, e não deve ser uma mera função decorativa. Como se fosse uma espécie de abajur. Até concordo que ele podia receber, a título donativo, uma quantia mensal em nome do legislativo. Por que não? Mas dentro da legalidade. A não ser que a lei permita uma brecha capaz de contemplar padres, dirigentes espíritas, pastores e chefes do candomblé.

       Receber sem trabalhar é uma ação danosa em qualquer análise. Sem hipocrisia, é um ato de roubar o erário e tirar a oportunidade de quem realmente deseja atuar seriamente na função. Admiro o Padre Luiz e estou convicto de que ele é um membro produtivo da sociedade e um cristão acima da média. Mas achar que o erro dele merece ser esquecido, amenizado e acobertado, é perpetuar no Brasil uma  danosa síndrome: aos amigos tudo, ao resto os rigores da lei. Sugiro uma pena: que o Padre colabore para exorcizar todos os fantasmas do funcionalismo público.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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