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Os shows da discórdia

            “Panem et circenses” foi uma política desenvolvida durante o Império Romano, que significa “pão e jogos circenses”. A frase tem origem no poeta satírico Juvenal e até hoje se presta a criticar o estilo de governo populista, que amarra o cidadão em ilusões primárias de migalhas oferecidas pelo Estado. Mais conhecida como “pão e circo”, a surrada tática tornou-se uma prática que se perpetua na politiquice brasileira.

            A mania de bancar shows de gosto duvidoso à custa do contribuinte, ainda flui sem o menor pudor. Numa inversão de prioridades que não se justifica, tanto o Governo Estadual quanto o Municipal, investem num grupelho de artistas capazes de agradar o povão, mas que em nada contribuem para arejar aspectos culturais importantes ou salvar raízes que estão se perdendo.

            O resultado acaba sendo um festival improdutivo que sequer traz algum benefício para os que almejam agradar as massas. Uma prova cabal de que o eleitor evoluiu e a classe política continua atolada na retrógrada visão da era antes de Cristo. Os sociólogos sérios entendem que é um dever dos administradores promover a cultura de alta qualificação. Sobretudo em segmentos que não existiriam sem o auxílio dos cofres públicos. Orquestras sinfônicas, corais, peças teatrais e outras expressões que desenvolvem sentidos de amplitude cerebral, devem ser incrementadas com auxílio de verbas estratégicas.

            Não se trata, como gostam de inferir os pseudointelectuais, de elitismo ou preconceito. É uma constatação que se confirma na lógica e na ciência. Musicalidade com elevado refinamento é um dos principais elementos que molda a boa cultura universal. Com um detalhe importante, o funk, o pancadão, o sertanejo, o agito do samba ou qualquer ritmo com rasgado apelo e de agrado popular, acontece sem nenhum empurrão.

            Tanto que a maioria dos que lotam estádios e garantem bilheteria de cofre cheio, não precisam de incentivo algum do governo. O sucesso de suas empreitadas artísticas acontece sem “pão e circo”. E justamente esses, que atuam no circuito garantido pela galera, é que engrossam sua milionária carreira com o dinheiro da viúva. Pior ainda é quando irresponsáveis decidem por contratações umbilicais capazes de agradar o circuito da “Cosa nostra”. Momento que se paga os tubos para garantir espetáculos de uma pobreza risível. Muitas vezes para garantir cachês divididos num consórcio entre amigos.

            Enquanto essa farra corre solta, creches carecem de verba, hospitais minguam atendimento, equipes do conselho tutelar são expulsas por falta de aluguel e outras prioridades são deixadas ao relento. Uma situação que não pode continuar. No arremate, desejando continuar com o estilo, que se digne pelo menos a contratar gente talentosa da terrinha que merece dignas oportunidades. Que tal uma lei que obrigue a isso? Com a palavra nossos bem-remunerados deputados e vereadores.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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