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Lições de um panelaço

 Não adianta procurar, no confiável Dicionário Aurélio, a definição da palavra panelaço, pois o vocábulo não existe. Para o alívio dos que são, como eu, eternamente agastados com os argentinos, não foram eles que inventaram essa modalidade de contestação. O “El Cacerolazo”, denominação barulhenta utilizando qualquer utensílio de cozinha, surgiu no Chile, em 1973, para protestar contra o socialista Salvador Allende. Entretanto, para provar que o método se tornou um instrumento popular e democrático, os panelaços chilenos foram direcionados contra o ditador de extrema direita, General Augusto Pinochet.

 Onde entram os Argentinos nessa história? Muito barulhentos, e sempre dispostos a acreditar que até Deus os defende pelas mãos do intragável Diego Maradona, eles tornaram o protesto mundialmente conhecido realizando estardalhaço nos governos de Carlos Menem, Fernando de La Rua, Adolfo Rodrigues, Eduardo Duhalde e, mais recentemente, nas implicâncias com Cristina Kirchner. Tão constantes foram as irritações na terra de Jorge Mário Bergoglio, mais conhecido como Papa Francisco, que muitos acreditam que foram eles a urdir tal zueira como forma de se queixar.

 Ao ser vítima do ruído das frigideiras e caçarolas, o PT ( Partido dos Trabalhadores) bem que podia incorporar um pouco de humildade e tirar lições do episódio. Primeiro que não dá mais para fingir que a repulsa se restringe aos apartamentos com sacada gourmet ou aos “coxinhas” da high society. O que se viu, muito claramente, foi uma aversão do espectro da classe média, a mesma que permitiu colocar Lula no poder. Segundo que a demonstração, longe de ser um mau humor apenas contra o governo, se alastra numa zanga contra a sigla.

 Existem motivos? Muitos. E nenhum deles foi tratado com honestidade na recente peça de propaganda. O máximo que se permitiu foi dizer que a sigla, a partir de agora, vai expulsar os que forem declarados culpados em última instância. E dai cara pálida? Só agora? E o que os dirigentes  tem a dizer dos que enriqueceram abusando das vísceras do PT. Ninguém topa reconhecer os erros históricos que levaram a tramas, acordos espúrios e conchavos, para garantir um projeto de poder, e não um projeto de governo? Como explicar a debandada de gente séria como Cristovam Buarque, Heloisa Helena, Marta Suplicy e muitos outros que fundaram a agremiação?

 Como encarar as falcatruas na Petrobras, o sítio de Lula recuperado por empreiteiros e outras mazelas que se fala apenas no sussurro dos bastidores? O partido não está mal apenas com os que possuem ojeriza pela estrela vermelha, está sendo questionado visceralmente. Os segmentos de apoio minguam a cada dia. Restringem-se a uma militância que recua e aos tradicionais redutos que dependem de verba da Federação, tal como MST, UNE e uma CUT envergonhada. São milhares que, embora ruidosos,  não podem se contrapor a milhões de brasileiros.

Se o PT ficar indiferente a todos os sinais de alerta, pode anotar, poderá virar fritura de segunda nas milhares de panelas disponíveis nas cozinhas brasileiras. Algumas já estão sem uso pela falta de alimentos que outrora enchiam a pança da galera satisfeita. A vida é assim, se a turma não pode mais comer lulas, camarões ou assar picanhas, surge uma vontade louca de frigir quem prometeu e não cumpriu. Lula, não o molusco, mas o político,  está na prateleira. Alguém duvida?

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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