Para quem teve o prazer de curtir um dos mais deliciosos momentos da alta sociedade produtiva de Goiânia, é fácil lembrar-se da generosa figura humana de Amara Rubia Custódio. Mulher de rara fibra moral foi um extraordinário esteio na criação do saudoso restaurante Cliff e da casa noturna Draft. Ombros largos, topete refinado, sorriso generoso e uma invejável capacidade para varar a noite trabalhando, foram marcas registradas de uma pioneira na gastronomia cinco estrelas e no glamour de uma danceteria de alto padrão.
Estudiosa do espiritismo, religião que abraçou com zelo e dedicação, faleceu, no dia 11 de abril, fiel ao seu espírito irrequieto. Os inúmeros amigos mal tiveram tempo de visitá-la no hospital e ela se despediu procurando com leveza os abraços de uma morada no plano superior. Deixou um vácuo difícil de ser preenchido.
Além do legado histórico no segmento de entretenimento da capital, deixou dois filhos que educou exemplarmente: Gustavo e Milla. Seu irmão André Custódio, inseparável parceiro nos empreendimentos, chora sua ausência na certeza de que ela cumpriu com devoção ímpar sua missão na terra. O leal companheiro Carlos procurou consolo numa frase que Amara gostava de repetir: “tudo aqui é passageiro, o que importa está no plano espiritual”. Mesmo inconsolável, sua mãe Bermilla, que todos conhecem como dona Milla, se firmou na fé e na certeza de que a filha foi recebida de braços abertos pelos familiares já desencarnados.
Eu tive a satisfação de conviver com Amara e aprender lições. Certa vez, momento em que o Cliff apresentava um elegante show com o cantor Cauby Peixoto, um desses chatos, disposto a usar distintivo de autoridade para entrar de graça levando a namorada a tiracolo, criou um princípio de escarcéu na entrada. Com passos rápidos, e semblante determinado, Amara perguntou ao imprudente: O que o senhor pretende? Simplesmente assistir o show sem pagar? Pretendo minha, minha senhora, exercer minha autoridade entrando no recinto, respondeu ele. Pois bem, disse ela calmamente, o senhor não vai fazer isso de modo algum, em respeito à sua companheira. “Certamente que ela não vai querer ficar com um homem que agride uma mulher. Pois, para fazer o que pretende, terá que passar por cima de mim. Acho melhor comprar os ingressos porque sua namorada é linda, está bem vestida e não merece o vexame” completou. O sujeito ficou sem graça, resmungou qualquer coisa e saiu de fininho.
Numa outra ocasião uma socialite mimada, depois de ter bebido todas e mais algumas, deu na telha de questionar a conta. Ameaçou um escândalo e o intimidado garçom chamou Amara. Ela não teve dúvidas. Disse à estrelíssima senhora o seguinte: “Pague o que bem entender! Conheço o seu pai, um empresário digno, e amanhã estou convicta que recebo o restante dele”. Nem precisa dizer que ela não só pagou a conta, como deu uma gorjeta generosa.
Amara era assim, destemida, generosa, brigava pelos seus direitos e tinha uma força interior que jorrava energia. Uma amiga para todos os momentos. Não guardava rancores, ou nutria ódio, era uma leoa perigosa na defesa da família. Culta e mantendo uma visão plural de muitos países visitados, muitas vezes pagou um preço alto por antecipar exigências do público que só foram concretizar-se décadas depois. Espero encontrar mais tarde com a querida amiga. Suas risadas vão fazer muito falta.
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