Sou uma anta quando se trata de futebol, apenas recentemente aprendi que bugrino são os torcedores do Guarani Futebol Clube e, se não estou errado, o termo boveta se refere ao Boa Esporte, que entra para o rol da história com a mais ousada e esdrúxula jogada de marketing da última década. Um cartola do clube, certamente pensando fazer jus ao nome do time, achou uma boa contratar o goleiro Bruno, envolvido no assassinato de Eliza Samudio, cujo corpo jamais foi encontrado.
Antes da estratégia, que parece ter se revelado um desastre, a equipe ia muito bem, venceu partidas importantes e se firmou como ponto positivo na autoestima dos habitantes de Varginha, que tem como único feito notável, até o momento, a visita de um ET, cuja timidez crônica impede de saber se ele ainda está ou não nos arredores da cidade.
Para se defender da controvertida aquisição, o senhor Rone Moraes publicou uma longa declaração. Suas palavras são lindas, o repertório jurídico irretocável e, na essência, ninguém pode discordar de sua tese. “A regra legal brasileira é a que todos, inclusive os criminosos mais perigosos, sejam submetidos a um julgamento honesto, imparcial e que a lei seja o fundamento da punição.” Antes de tudo, acrescenta ele, faz parte da obrigação social da empresa e da sociedade cooperar com a recuperação de um ser humano.
Como diria o Garrincha, ele só se esqueceu de combinar com o russos. O problema é que um time de futebol não é uma agremiação semelhante a uma empresa, um negócio qualquer. A camisa, embora seja usada pelos jogadores, é um bem coletivo. A representação extrapola uma vontade isolada. Famílias inteiras se consideram parte integrante da equipe para o bem e para o mal. Indicar uma pessoa envolvida até os ossos num assassinato hediondo, com ocultação do cadáver, numa situação ainda nebulosa, é no mínimo bulir com os brios de toda uma comunidade. Se isso não fosse o suficiente, o cartola devia ter pensando no real significado de um ídolo no esporte.
Em uma nação carente de bons exemplos, e que mantém no imaginário coletivo profissionais como Airton Senna, Pelé, Eder Jofre e outros que podem ser apontados aos jovens como ícones a serem copiados, não pode se dar ao despropósito de colocar em evidência, com amplas possibilidades de ser carregado nos ombros da torcida em momentos de triunfo, um personagem como Bruno. Por quê? Maldade? Ausência de caridade ou falta de perdão de acordo com as leis divinas?
Nada disso, a angústia dos pais de família está no comportamento do goleiro. Ele não mostrou sinais de arrependimento e até hoje mantém uma mãe sem ter o direito de enterrar a filha. Isso sim é covardia, maldade e ausência de respeito às leis divinas. O homem não foi injustiçado. Ao que consta, cometeu uma bárbara injustiça. E só está livre e solto porque a o sistema não cumpriu seu rito.
Não se trata, como deu a entender a chorosa explicação do dirigente do Boa, de oferecer guarida a um cidadão que, tendo cumprido suas obrigações morais, éticas e sociais frente a um assassinato, pudesse erguer a cabeça e se oferecer a uma vaga com direito à sua cota de glória.
O goleiro Bruno, a meu ver, só poderá voar como um gato defendendo o gol, seja de que time for, se tiver a dignidade de contar onde está o corpo da jovem assassinada. Caso contrário, os torcedores vão cobrar a fatura. A culpa pelo segredo não revelado fará com que a bola tenha o peso do chumbo da vergonha. Uma desonra, uma humilhação que atinge imerecidamente toda uma agremiação.
Essa é uma dura realidade. Gostem ou não os que aprovam o acordo selado entre risos e fotos. Estavam rindo do quê? Da morosidade da Justiça, da polícia que nunca encontrou o cadáver? Ou foi apenas um riso cínico?
Rosenwal Ferreira Jornalista, Publicitário e Terapeuta Transpessoal
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