Carlos Cachoeira fez sérias denúncias.  O Ministério Público vai agir?

      Até inocentes em fase de chupar pirulito sabem que Carlinhos Cachoeira foi um generoso doador a políticos de todos os matizes. Tanto é verdade que até os políticos mais afoitos, alguns famosos pelo rompante de bravura, se apressaram em terminar uma CPI, que não deu em nada, antes que a verdade pudesse contaminar reputações em todas as siglas.

     Meticuloso e conhecido por armazenar  provas incriminadoras, Cachoeira foi do céu ao inferno, e amargou ostracismo mesmo entre os maiores beneficiários do esquema. Os segredos que possui, e podem abalar a República, são mantidos em rédea curta.  Atolado até os ossos em processos que requerem bons advogados e sangue frio, o homem se dedica a salvar a pele de bons anos de cadeia. Com inteligência acima da média, sabe que a empreitada é difícil e fica muito pior se estiver nos holofotes da mídia.

        Reage num estilo duro, que não deixa dúvidas sobre o seu potencial de retaliação, quando ameaçam sua família ou seu cuidadoso plano de ação. No recente artigo em que bombardeou Iris Rezende, saiu da trincheira para não se transformar na principal atração do horário eleitoral gratuito e na chama que ilumina denúncias nos palanques.

      O conteúdo de seu artigo não traz novidades que não se ouviu nos bons e maus botecos da cidade. Reuniões com diretores da Delta “em que o cardápio trazia pescaria e também outros assuntos não tão republicanos”, não aconteceram só com Iris. Muita hipocrisia acreditar que só o veterano Iris é que foi buscar recursos no pote de ouro.

      A parte mais interessante nas revelações, com premeditado e fortíssimo tom de ameaça, está na afirmativa de que “áreas públicas foram distribuídas as associações filantrópicas e que, estranhamente, foram parar nas mãos de particulares.” Ora, convenhamos, é difícil ao Ministério Público investigar o teor de acordos realizados nas surdinas das salas de jantar. Mas eis um tópico que pode ser escrutinado com razoável facilidade.

      Basta solicitar ao denunciante, que tornou o assunto público, dados capazes de serem analisados. A não ser que o Ministério Público ignore a seriedade da questão, não me parece plausível fingir que a falcatrua não existiu. O próprio Iris devia encomendar uma pesquisa, mostrando quais áreas foram doadas em suas gestões e que destino foram dados a elas. Ou seja: sendo mentira, pode ser facilmente desmascarada.

     Se todos nós, na qualidade de contribuintes que pagam a mais alta e injusta carga tributária do planeta, fomos lesados, é de se exigir providências. Entendo que a imprensa goiana, sobretudo veículos poderosos que possuem condições para a empreitada, deveria investigar a questão. Infelizmente, como sempre, tudo indica que o assunto vai morrer nas escaramuças de respostas para boi dormir.