Numa anêmica entrevista ao Jô Soares, o cantor Orlando de Moraes declarou, como se fosse algo digno de uma pompa global, que havia sido erguida uma verdadeira cidade com o seu nome. Não mentiu. Centenas de famílias acreditaram no casal Glória Pires e Orlando de Moraes, adquirindo terrenos num prometido quadrilátero estilo Shangrilá, certos de que o local seria um oásis de paz, saúde e estrutura urbana qualificada.
As peças de marketing usaram e abusaram do prestígio do casal, vendendo a falsa ideia de que o quadrilátero se prestaria a atender as exigências que os famosos preconizam para seus familiares. Ledo engano. Com uma estrutura precária e praticamente abandonada à má sina dos aglomerados sem controle, a região se enrosca em azedumes crônicos num bairro que impera o medo e a incerteza.
Duvido que a simpática dupla tenha a coragem de passear com os filhos na redondeza, ou ficar ali dando sopa, sequer com o sol brilhando no horizonte. Longe de se preocupar com fatores ecológicos, com a qualidade de vida da capital e assuntos correlatos, os famosos utilizaram apenas sua reconhecida influência como dínamo, capaz de aprovar um loteamento com vícios que parecem insanáveis.
Trabalhadores humildes, gente que merece respeito, vem amargando dificuldades cotidianas porque acreditou numa ilusão. O bairro não só pede socorro, como se transformou em desgaste para a região. E agora, Orlando de Moraes? Já que a “cidade” tem seu nome, e serviu para enriquecer o seu patrimônio, por que não utiliza sua influência para corrigir as distorções?
Acha tudo normal? Vai morar na região? Faça pelo menos um show para alertar as autoridades sobre as mazelas do pedaço. A cidade não é sua? Assuma! Estou certo de que sequer tem noção do que acontece com o reino que inventou e colocou seu nome.
Vou além: O Ministério Público carece investigar, ouvindo dignos moradores que investiram no sonho de um lar decente, se as promessas implícitas nas peças publicitárias foram cumpridas. Isso para não falar na autorização para lotear sem o devido respaldo estrutural, sobretudo no item que compromete o lençol freático da capital.
Como no filme que mostra o inegável talento da atriz, se eu fosse vocês, Glória Pires e Orlando Moraes, trocava de lugar com os que confiaram nas promessas, para sentir na pele o sofrimento da ilusão.
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