Eu sou uma besta quadrada

Antes de tudo, quero deixar claro que tenho o maior respeito pelos animais quadrúpedes, muito úteis ao ser humano em amplas atividades, e que são classificados como bestas. A minha rotulação não tem nada a ver com figuras tão importantes e significativas na história do planeta.

Eu sou um apalermado, desprovido de esperteza, de uma burrice inclassificável que precisa do termo “besta quadrada” para uma definição mais exata. Imagine o leitor, por exemplo, que fico ensimesmado com a ditadura implantada na Venezuela, visto que existem senadores brasileiros a defender o mesmo regime em terras tupiniquins. E daí? De que adianta minha ojeriza a Maduro e seus fanáticos seguidores? Essa preocupação conserta o asfalto, sofrível e cheio de buracos, que há mais de vinte anos destrói um modesto veículo que me leva de casa ao trabalho? Não!

Imaginem os senhores que o palerma aqui deu na telha de implicar com os gastos da classe política, achando um absurdo, e clamando modificações no rádio e na TV, achando exagero que o custo da Assembleia Legislativa de Goiás e a Câmara Municipal de Goiânia estejam drenando um milhão de reais por dia. Os profissionais do segmento, com muita razão, devem me enxergar como um doidivanas a manter distância. Eu pretendo o quê? Que eles mudem o que lhes interessa? Vai ser quadrado assim num buraco bem profundo.

Recentemente, em mais uma prova de asnice ululante, dei para me incomodar com os virulentos nazistas norte-americanos, urrando impropérios contra Donald Trump a quem considero um  racista intolerável. Vai me dizer que alguém nos Estados Unidos está incomodado com minha opinião? Ainda por cima quando eu aproveito para criticar os radicais, de ambos os espectros, que surgem no cenário brasileiro. Santa ignorância. Sou um inútil mesmo. Principalmente porque essa energia desperdiçada não resolve assuntos mais importantes como impedir que tarados sonoros continuassem tirando o sono de quem procura ter um mínimo de descanso em meu bairro. Sou um caso perdido.

Cheguei a perder noites de sono acompanhando, e depois criticando como um possesso, as escaramuças de membros do Supremo Tribunal Federal, que procuram destruir os rumos da Operação Lava-Jato para impedir que a investigação chegue ao andar de cima.  Como se Gilmar Mendes e Cia Ltda. fossem perder um único riso com meu esforço inútil. Enquanto isso, os malas que agem no pedaço continuam roubando celulares e tirando míseros trocados de quem espera o ônibus lotado, lesando funcionários humildes que me ajudam a tocar o cotidiano.

Pois é. Pago altíssimos impostos, não tenho suporte de escola para meus filhos, tenho que arcar com seguranças particulares, pagar um plano de saúde privado, amargo dupla tributação nas estradas, vivo em regime de medo constante e sabem com que já me preocupei? Com o gordinho imbecil, com sua eterna cara de quem vive comendo algodão doce, ditador sanguinário da Coreia do Norte. Pensa que é brincadeira? Já escrevi e rapei o pau nele no rádio. Bem que ele podia me ouvir e jogar uma bomba… Péra aí!!? Lá vou eu de novo me incomodar com o que não interessa. Urge fechar as contas no azul no mês de agosto. Aceito de bom grado quem me diz para deixar de ser besta. Se meu QI permitisse eu deixaria. Juro.