Quem dobrou boas primaveras, a turma que se acostumou a ser classificada como “meio-dia para tarde”, sabe que não existe felicidade
perfeita, mas que a infelicidade chega fácil ao irretorquível. Como afirmou um sábio pajé indígena: “é fácil saber que cão sobreviverá no eterno embate entre ódio e paz. Será vencedor o que for mais alimentado”.
Neste difícil momento em que se digladiam forças antagônicas em todos os rincões do país é preciso coragem para conciliar versários e nutrir o perdão.
Causa-me espanto que brasileiros ainda sejam iludidos acreditando que existe um cotidiano preto ou branco e que as mazelas nacionais podem ser resolvidas eliminando uma ou outra corrente política.
Ingenuidade alimentada por oportunistas, aproveitadores de ocasião e intelectuais desonestos. A nação, na complexa e difícil equação política, precisa de harmonia e perdão.
Desde que fomos vítimas responsáveis, e destaca-se que o termo “vítimas responsáveis” não está sendo utilizado por acaso, das mazelas do regime militar de 1964, a nação se reconciliou apenas no verniz das aparências. Até hoje, com razões plausíveis que ambas as correntes utilizam para justificar o ódio, correntes divergentes nunca se perdoaram.
Quem justifica raiva e desopila veneno contra a esquerda radical e os diversos pupilos do pró-comunismo, faz de tudo para destruir, prejudicar e mostrar as mazelas de que defende o modelo. Os que agem com o mesmo ardor, rasgando repulsa e violenta aversão aos que batizam de burguesia capitalista, também fazem o diabo para aniquilar os desafetos.
Esta guerra, fraticida, suicida e improdutiva, gera distorções que só prejudicam o país. Poucos se dão ao trabalho de agir honestamente canalizando energias aos pontos convergentes. Sem consenso para absolutamente nada, a não ser a certeza da discórdia, perdemos o bonde da história.
Criamos um espírito de eterno revanchismo. Ao acreditar que só podemos progredir com o assassinato e enterro de uma das correntes de pensamento, está engendrada tempestade perfeita. É como se debaixo dos panos tivéssemos um conflito “à la judeus e palestinos”. Algo que, segundo a sabedoria chinesa, está solucionado justamente porque o que não tem solução, solucionado está. Será que precisa ser dessa forma?
O que nos tornará melhores é a comparação de quem coloca mais gente na rua? Isso termina com a vitória de quem? Dos que mostram mais gente com gana de destruição dos oponentes? Uma espécie de “fla-flu” onde não interessa embate, um dos lados jamais aceitará a derrota e com uma turba aprovando e outra pronta para linchar o juiz? É assim que se resolvem graves problemas que nos aflige.
Lamentável que, após marchas contra marchas e ruidosas campanhas, nenhum centímetro sequer se avançou para sanar o medieval sistema carcerário, as masmorras do sistema de saúde, o abominável caos no transporte público, a insuportável carga tributária, o falido sistema de ensino fundamental e outras feridas com desgosto garantidas.
Agimos nos moldes de adolescentes sem rumo, e mal orientados pelos pais, capazes de acreditar que o baile será diferente, mais animado e festivo, apenas mudando os membros da orquestra, mas continuando a tocar a mesma música, o mesmo repertório que nunca agradou ninguém.
A vida me ensinou que se não existir perdão, não existirá felicidade.
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