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A jararaca que engoliu veneno

A história de Luiz Inácio Lula da Silva é uma pintura surrealista capaz de mesclar lenda com realidade. A saga do retirante mais famoso do país já rendeu um filme longa

metragem (um fracasso de bilheteria, destaca-se), vários livros, teses de mestrado, milhares de artigos e a vida do nordestino pobre que se fez presidente ainda é uma inspiração para poetas e músicos, com direito a prosas e versos a favor e contra.

Ao se definir como uma cobra jararaca, ferida, mas capaz de reagir com mortais doses de veneno, Lula foi certeiro na avaliação. O homem aprendeu a conviver com revezes que

fariam tombar a maioria das pessoas. Definitivamente não é um homem comum. Sequer a morte o colocaria na condição de cidadão mediano. Sobreviveu às derrotas, ao câncer, ao fogo cerrado dos inimigos, ao ódio de ex-companheiros e se ergue desafiador, gigante, mesmo acuado por denúncias de abalarem montanhas.

No entanto, quem diria, está sucumbindo vítima da própria saliva. Foi ele, um réptil político que hipnotiza e seduz quem lhe interessa, a criar o fosso invisível, extremamente eficaz, que separou a nação entre “nós” e “eles”. Na visão do arguto orador, do operário que entende a linguagem das massas, “nós” se resume aos trabalhadores sofridos, aos pais de família que amargam dissabores cotidianos, gente com suor garantido que mal consegue fechar as contas no final do mês. Patrícios que jamais sonham frequentar hotéis cinco estrelas, restaurantes que servem iguarias que custam os tubos e disponibiliza carta de vinhos que superam oito mil reais a garrafa. São trabalhadores que só conseguem entrar nos hospitais de excelência, com diárias que podem superar milhares de dólares, na condição de servidores da nobreza.

“Nós”, ainda na visão de Lula, podemos ser mecânicos de jatos luxuosos, pisar em iates, mas nunca na qualidade de clientes a degustar um Royal Salute. Ficou muito claro na imaginação popular, que o elegeu a mandatário mor da nação, o que separa “nós” e “eles”.

Lula não deixou margem para reconhecer que existe burguesia com mérito, elite a ser admirada porque alcançou progresso com méritos louváveis. Algo impensável capaz de destruir um discurso tão eficiente quanto radical. Mas, eis que em um desses tropeços previsíveis a jararaca se engasga e prova do veneno que urdiu durante décadas. Lula, com muita rapidez, dá um salto rápido e cai no baile dançando valsas, boleros e tangos com a destreza dos que foram carimbados como “eles”.

Bem que tentou, e foi pior, esconder o que poderia ser normal ao ciclo do esforço dos que lutam com seriedade. Lula se deleitou nas delícias de um sítio paradisíaco, tomou gosto por viagens de jatinhos particulares, exigiu ficar em resorts que agradam reis, acomodou a esposa em uma cobertura de leque duplo, garantiu o futuro dos filhos em transações milionárias e conheceu o mundo com pompa e gastança.

Acelerou como poucos em direção a uma conta bancária generosa, exigindo tratamento só disponível a uma casta superior. Não tem problemas com a segurança e nem com a quitação de despesas miúdas. Ao menor espirro é atendido por uma junta com cientistas médicos renomados. Colocou-se numa enrascada.

Agora, fazer o quê? Vociferar contra a burguesia? Alfinetar os poderosos? Criticar os que vivem como nababos? Como fica? Quem são “eles” e “nós”? Lula, embora seu ego não permita, está preso e enjaulado pela própria estratégia. Não é bem-vindo aos locais frequentados por quem sempre desprezou e não se ajeita com a plebe que não faz parte mais de suas vísceras. Lula não precisa de cadeia. É um prisioneiro da própria esperteza, que foi demais e passou da conta.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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