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O maravilhoso professor de yoga

Na Índia, o confortável aeroporto da cidade de Dehra Dun se transforma num portal para incríveis aventuras. Por uma ninharia, qualquer taxista está disposto a percorrer as belíssimas e sinuosas estradas que beijam o início do Himalaia, permitindo que os turistas possam descansar na bucólica Mussorie, um vilarejo que repousa, como se estivesse perdido no tempo, a mais de dois mil pés de altitude.

Em meio aos vendedores de peixes frescos, flores, mercados de verduras, artigos de lã e operários que cobram cerca de um real para transportar de bicicleta um casal por mais de um quilômetro montanha acima, é possível vislumbrar uma paisagem de tirar o fôlego. Para se ter uma ideia, a neblina que cobre o vale realiza uma dança com o sol que produz múltiplos arco-íris. Quando a cidade acorda, no frenesi da madrugada, é possível ouvir os soldados da mais antiga academia policial do país rindo às gargalhadas. Faz parte do treinamento rir solto no início dos exercícios. Os simpáticos habitantes aproveitam para curtir e dar risadas em conjunto.

Foi nesse local, mais especificamente no final da Camel’s Back Road, que eu e minha bela esposa Kétina ouvimos falar de um maravilhoso professor de yoga, conhecido como mestre Swami Yoganand. Ele ministra aulas no prestigioso Parmarth Niketan, joia da cultura Indiana em Rishikesh. Apaixonada pela atividade, ela não pestanejou em mudar o roteiro e tentar uma vaga com o especialista.

Administrado pelo guru Pujya Swami Chidanand Saraswatiji, o Asharam do mestre é algo inacreditável. Um local mágico localizado na margem direita do Ganges, acessível por uma ponte suspensa, por onde transitam em caótica harmonia macacos, vacas, cabritos, mulas, lambretas, bicicletas, peregrinos de todas as partes do planeta, no amalgama de ricos indianos e mendigos que dormem ao relento.

Sem exceção, todos procuram a energia que corre nas veias do Ganges. O centro de cultura possui mil apartamentos com água quente e nível razoável de conforto. Incluindo café da manhã, almoço, lanche e jantar, a diária não chega a cinquenta reais. Tivemos sorte de pegar um quarto de frente para o rio sagrado. Confesso que jamais senti uma emoção semelhante. Durante a noite, com o silêncio que se rompe apenas com o badalar dos sinos que acordam os Rishie Kumar às quatro horas da madrugada, o rio sussura uma melodia que embala os sonhos. Uma sensação indescritível.

Apenas o Parmarth Niketan se presta a escrever um livro. Explicar as centenas de estátuas que se erguem como joias entre as flores, justifica centenas de páginas. A cerimônia que acontece ao entardecer é tão expressiva que vou guardar para outro artigo.

Mas vamos ao professor que justificou uma mudança de rumos na especialização de yoga de minha Kétina. Acordamos às cinco horas da madrugada, como manda as regras dos alunos. No amplo salão vermelho já estava o mestre em posição de lótus. Nas primeiras instruções, deu para notar a rigidez do famoso professor com seus discípulos, também mestres, Sandeep e Surya. Aos gritos, não aceitava o menor deslize nas instruções.

Como amador nivelado por baixo, seus auxiliares sofreram para corrigir minhas posturas. Mesmo assim, sequer cheguei perto do ideal. Em todo caso, como leigo curioso e dedicado, não achei a aula nada excepcional. O tal magnífico, embora lépido e ágil, não me pareceu justificar sua fama na arte da saúde holística.

Como sou jornalista, e não expert em yoga, me atrevi e perguntei: afinal de contas o que esse mestre tem de especial além do seu nítido mau humor com os mínimos detalhes? O amável indiano, certamente rindo de minha ignorância, respondeu com um largo sorriso: “Nada demais a não ser o fato de que ele tem cem anos de idade”. Quase tive um treco. O centenário velhinho merece o título de Wonderfull Yoga. Aliás, essa é a especialidade que ele ensina.


Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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