Segundo os advogados do vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite, ele sofreu “angústia, ansiedade, insônia, choro e irritabilidade na cadeia”, onde está preso desde novembro passado em decorrência da operação que investiga um esquema de corrupção na Petrobras. Por conta disso, e com o apoio do laudo de um psiquiatra, os defensores solicitam ao Juiz que ele seja imediatamente liberado da prisão. Que lindo! Eu não duvido uma vírgula que o sujeito esteja amargando falta de sono, aflição, que derrame lágrimas ou esteja num mau humor dos diabos. Estes sintomas acompanham milhares de encarcerados nas sofríveis condições dos presídios brasileiros.
Em comparação com seus coleguinhas de traquinagem – falsários, ladrões de bancos, traficantes, etc – o riquíssimo empreiteiro devia estar agradecido. As instalações em que ele se encontra representam uma espécie de classe executiva do sistema prisional. Sua frágil personalidade certamente entraria em caos psicológico ao ter que enfrentar as reais agruras de um cárcere comum.
O interessante é que Eduardo Hermelino, assim como os comparsas do chamado clube do bilhão criado para lesar a Petrobras, não titubeou ao agir em moldes de quadrilha. Em sua obtusa ótica, sem nenhum senso ético, considerou normal lesar o patrimônio público numa gigantesca rede de corrupção. Para esse grupelho de egoístas, que se danem os pais de família que choram atendimento médico, azar dos que imploram por um transporte coletivo digno, e que nadem no mar do estresse os brasileiros que clamam por verbas públicas em setores cruciais.
Ou seja: pimenta nos olhos da galera é colírio. Angústia e sofrimento só tem sentido quando afeta os poderosos. Os marginais envolvidos no esquema – sim, quem age à margem da lei tem esse nome – deviam ter pensando nas consequências de seus atos. Quem não suporta cadeia que faça tudo correto para não correr o risco de enxergar o sol nascer quadrado. Agora, uma vez pego com a mão na cumbuca, que tenha pelo menos a dignidade de agir como homem.
Eu não enxergo nos atos dos envolvidos sequer o exercício do arrependimento. Ao invés de utilizar-se da deleção premiada, entregando todos os dados operacionais que lesam a nação, ainda se fiam em estratégias jurídicas capazes de salvar boa parte da máfia. Neste contexto, vejo o desgosto dos empresários trancafiados com o mesmo desdém com que eles surrupiaram o povão. Estão atormentados? E daí? Acho pouco.
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