Um grupo de pesquisadores na Universidade de Coimbra, em Portugal, provou o que boa parte dos fãs de futebol já suspeitava: a paixão despertada pelo esporte é similar ao sentimento de uma pessoa que vive um amor romântico. Após três anos de pesquisa, os cientistas Catarina Duarte, Miguel Castelo-Branco e Ricardo Cayolla, do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, comprovaram que os circuitos cerebrais que são ativados nos torcedores de futebol são os mesmos que nas pessoas apaixonadas.
A informação acima, que copiei na íntegra no site da Revista Veja, prova que sou uma besta ambulante. Sendo verdade, eu perdi um fantástico mundo de alegria sem ter noção disso. O que me encasqueta é descobrir como os tais especialistas chegaram a uma conclusão que pode ser traumática aos cretinos, como eu, que nunca se incomodaram em ver o time perder, jamais tiveram uma excitação pelo gol, ficaram com dor de cotovelo por uma derrota por pênaltis ou sentiram o coração bater mais forte numa vitória.
Definitivamente sou um anormal. Já pensaram quantas vezes perdi as deliciosas sensações de chegar perto do orgasmo vendo o Vila Nova ganhar um jogo? Será que Freud explica? Paixões me jogaram na lona, o amor romântico me fez trinar como se fosse um passarinho. Voei, sofri, ri como um garoto a se lambuzar de chocolate. Fui ao céu, desci ao inferno.
Acreditar que esse nível de satisfação, ou de sofrimento, pode ser alcançado nas arquibancadas, no escurinho do cinema ou no aconchego da sala em frente à TV me fascina e me deixa frustrado. Paixões com beijos ardentes e amassos que transbordam a alma podem ser equiparadas com o ato de torcer por uma equipe de futebol. Que coisa!
Chego a duvidar dos investigadores lusitanos. Mas sendo gente do Instituto de Ciências Nucleares Aplicada à Saúde, o assunto deve ser muito sério. É uma verdadeira bomba nuclear em meus sentimentos tão medíocres. Gente, no duro, cheguei a pensar que o casal português Catarina e Miguel nunca teve uma relação amorosa para sair faísca. Em minha ignorância, nenhum esporte substitui o amor ardente, o sentimento elevado ao alto grau de intensidade quando se deseja uma companheira.
Pois é. Estava errado. A ciência, segundo consta, atesta a pobreza de minha avaliação. Pior notícia é saber disso através dos portugueses. Eu, que cresci contando piadas de português, acabei morrendo na praia do desgosto, tendo que admitir que eu é quem sou uma piada. Será que tem remédio? Não acredito. Perdi tempo e não saberia, agora, aproveitar os orgasmos no circuito cerebral.
Para quem está no começo da jornada, dou um conselho. Se esbalde torcendo por muitos times. Um monte deles. Seja dedicado. Viva a adrenalina comparada a muitos amores. Se não correspondido, não tem importância. Sempre haverá uma boa equipe para se dedicar. Aproveite, nade de braçada, mantenha equipes de seu coração na Europa, nos Estados Unidos, na África, América Latina, em todos os Estados brasileiros, a poligamia é livre no futebol. Se morrer, será por excesso de paixões. Que delícia.
Quanto aos pobretões, miseráveis do meu time de frustrados, temos que contentar apenas com as paixões que envolvem calor humano. Bom para os psicólogos. Até marquei uma sessão extra. Culpa dos portugueses. Oh raça.
Rosenwal Ferreira
Jornalista, Publicitário e Terapeuta Transpessoal
Tenho imensa curiosidade sobre esse assunto. Gostaria de entender o mecanismo que faz alguém se tornar um torcedor. Poderia me indicar literatura ou qualquer estudo do tema?
Parabéns pelo texto!