No calor das emoções, e com gente raivosa tirando todo proveito de uma tragédia urbana, ficou difícil analisar com imparcialidade o episódio que provocou a agressão ao estudante Mateus Ferreira da Silva, de 33 anos, durante um protesto em Goiânia. Somente agora, com o rapaz fora do hospital e com chances concretas de recuperar plenamente a saúde, é que se podem examinar, sem o receio de retaliações primárias, os complexos ângulos da situação.
A meu ver, duas correntes antagônicas sempre estiveram erradas na quizila. Foi inapropriado exigir o linchamento moral do policial envolvido, Capitão Augusto Sampaio, tanto quanto afirmar que o jovem universitário era um baderneiro que precipitou a própria má sorte.
Ambos, cada um no seu papel, terminam por vítimas do anacronismo que assola a nação brasileira. Não conseguimos ainda desenvolver um processo democrático sem violência. Seja no âmbito dos que protestam — orientados taticamente nos bastidores — ou dos que se lançam — com ordens institucionais a serem cumpridas — para evitar destruição e baderna.
Os atores brasileiros, jogados no teatro do absurdo e manipulados por forças que ora soltam ora seguram as rédeas, terminam forçados ao confronto improdutivo, com sequelas sociais previsíveis.
Que os ingênuos não se iludam, apenas a arraia miúda, a turma que se presta a ser bucha de canhão, se dá mal na refrega dos que se jogam ora para conquistar ora para não perder o néctar do poder.
Minha torcida e orações foram para a recuperação do rapaz e por um julgamento justo a um profissional da Polícia Militar, cuja reputação e carreira estão em jogo.
A decepção no imbróglio ficou por conta do Secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, 49 anos, natural do Rio Grande do Sul, licenciado em História, com especialização em psicopedagogia clínica e em terapia familiar. Justamente ele, que teve experiências educativas e policiais na Holanda, nos Estados Unidos, Portugal, Noruega, Inglaterra, Suécia, Costa Rica, Peru e Colômbia, se precipitou numa ação intempestiva, no mais absoluto estilo de quem joga para a plateia, dando ares de condenar toda a corporação.
Sua estratégia, para acalmar os ânimos, foi alardear um plano geral capaz de orientar e reestruturar as ações do militares. Assim, no espirro do improviso e no clamor de um grupelho ruidoso, deu um sinal claro de que se verga em momentos de pressão. Os comandantes se calaram por respeito à hierarquia. Mas pegou mal, podem anotar.
Quem conhece os humores dos quartéis, sabe que ele saiu arranhado do episódio e terá dificuldades para angariar a confiança de uma corporação que sofre numa guerra sem fim. Ficou a dúvida se ele é o homem certo no lugar errado. O tempo dirá. Rosenwal Ferreira Publicitário, Jornalista e Terapeuta Transpessoal
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