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Fragmentos do amor

          Neste carnaval versão 2012 não foi diferente, milhares de foliões se envolveram em beijos ardentes, abraços de tirar o fôlego, corpos abrasadores se esfregaram em frenesi, em um festival de sexo que fez arder cenas divulgadas em todo o planeta. O governo colaborou distribuindo preservativos e foram poucos que saíram da folia sem registrar um bom amasso. Milhões de brasileiros deram um bom exemplo do que significa amor caliente ao Sul do Equador? Menos, bem menos do que isso. O problema que nos aflige é justamente este. Estamos confundindo tesão carnal com sentimentos puros de carinho e afetuosidade. Não somos hipócritas ao ponto de não reconhecer que um rala e rola de putaria pode até levar a relações conjugais produtivas. Mas trata-se de exceção e não regra.
          Note-se que estamos no limite de festanças coletivas com frenesi que parece substituir os encontros amorosos que levam ao um equilíbrio de relações. O namoro praticamente não existe mais. O esfrega e traça das festas a fantasia, dos bailes open bar, das loucuras funk e de mil e outras orgias de encontros relâmpagos substituíram relações que antes evoluíam no estilo vagaroso, cotidiano e equilibrado. Resultado: mil e uma relações de gozo fantástico e escassa solidez interpessoal.
          Essa correlação, embora repleta de prazeres radiantes, deixa uma vazio que não se completa. Fácil e instantâneo, como se fosse uma espécie de forno de microondas das relações humanas intensas, requer uma reposição imediata. Gera um vácuo que grita sem emitir som, clama sonhos sem estar dormindo, torna-se uma operação sem anestesia. Por essas e outras é que, hoje, muitos se refugiam em drogas que afagam, em químicas que enganam carências no túmulo dos desesperados.
          Amor, é preciso relembrar, envolve uma capacidade de sentir que vai além dos desbundes que incendeiam as passarelas do samba. É uma chama que nos envolve no doce embalo de desejar o bem da pessoa amada na base do sacrifício mútuo, com o dom de ceder na medida certa, aceitando diferenças, contribuindo para o crescimento sem egoísmo. Torna-se importante na medida em que aceitamos as divergências sem mágoas, deixando de alimentar ressentimentos. Enche-se em um mar de apoio estrutural capaz de vencer enfermidades, superar obstáculos, buscar soluções e vencer barreiras. O amor não mata, não desopila ódio, não vocifera rancor. Quanto ao sexo? É bom demais. Faz parte do amor. Mas sozinho, se agita como uma fogueira que não resiste aos chuviscos da madrugada. Divagações no arremedo de um poeta saudosista? Pior que não! Oxalá pudéssemos substituir um valor tão importante, quanto se torna escasso, pelas facilidades do rei momo, das micaretas, no embalo dos shows e trio elétricos.
          Quem possui um mínimo de sensibilidade observa nitidamente o quanto nos afastamos da natureza de relações que agregam. As letras das músicas vociferam o estilo deixa que eu penetro, afunda que eu gosto, rasga que a gente se entende, em um festival que abunda grosseria. Hoje, dançar na boquinha da garrafa tornou-se tópico de criança. O que está valendo é o escracho que avilta. Depois nos surpreende o acréscimo de estupros, a aceleração de pedofilia, a banalização da morte e desmoralização das famílias. Tudo vai se tornando apenas carne. Logo se deduz que pode moer, cortar e salgar como bem entender. No açougue das multidões sempre tem mais.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

2 Comentários

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  • Parabéns pelo artigo,o que mais me revolta é ouvir dessas pessoas : “temos que aproveitar a vida”. E as mulheres esperarem o grande amor da sua vida na putaria,e o pior pedem respeito, elas não sabem que os homens tem uma natureza diferente da nossa,e qd procuram a mãe de seus filhos, aquela que sera sua esposa o ultimo lugar seria nessas orgias a céu aberto, carnaval e baile funk.
    Aos 16 anos já sabia exatamente o que queria, formar, casar e ter uma família, isso sim é aproveitar a vida,ter alguém pra te fazer amor , te chamar de amor e de mae…

  • Gostaria de parabeniza-lo pessoalmente pelo artigo. Vivemos em uma sociedade onde tudo esta banalizado , uma sociedade onde crianças praticam sexo normalmente e os próprios pais apoiam com a famosa frase … ” estamos no século 21 “… ” se proibir agora vai fazer depois mesmo … ” . Vamos continuar sendo o cartão postal da pedofilia e prostituição , quando se quer fazer sexo com uma menor , ou mergulhar na prostituição sempre seremos referencia para turismo sexual , escondidos atras da mascara do carnaval .