edesenhar fronteiras entre dois países é uma tarefa difícil. Diplomatas, às vezes, passam anos discutindo cada palmo de terra na hora de definir onde começa e termina um país. Na divisa entre a França e a Bélgica, no entanto, foi preciso apenas um fazendeiro para trazer à tona uma disputa que parecia resolvida há 90 anos.
Aparentemente insatisfeito com uma marcação fronteiriça feita em pedra, com mais de 200 anos, um fazendeiro belga a removeu e recolocou pouco mais de 2 metros dentro do território francês. Segundo reportagem da rede britânica BBC, ele estaria irritado com o fato de a pedra atrapalhar o caminho do seu trator.
No mês passado, um grupo de franceses, que há anos passeia pela fronteira conferindo o status dessas divisórias notou que havia algo de errado. O trabalho deles consiste em checar se cada uma dessas pedras está no seu devido lugar.
A que divide o vilarejo francês de Bousignies-sur-Roc da cidade belga de Erquelinnes parecia estranhamente deslocada. Jean Pierre Chopin, um dos responsáveis pela investigação, suspeitou logo que algo estava errado. “Todas as marcações estavam no mesmo lugar de sempre, de uma maneira muito precisa, menos esta, que estava em um local mais alto”, disse Chopin.
Após uma consulta ao mapa, perceberam que a pedra tinha entrado 2,2 metros na França. “É um local muito isolado. Quase ninguém passa por ali. Por muito pouco, a mudança não passou batida”, disse Chopin, que calcula que a pedra foi movida há cerca de três meses.
Pedras como a que foi deslocada dividem a França e a Bélgica desde o Tratado de Kortrijk, em 1820. Elas pesam entre 136 kg e 272 kg.
Os motivos do fazendeiro suspeito de mover a pedra ainda não estão claros, mas em teoria, a atitude dele pode ser considerada uma violação do tratado. “É um problema ‘sério’. Digo entre aspas porque há questões bem mais sérias que isso”, reconheceu Chopin.
Autoridades locais reagiram à questão com um pouco de humor. “Ele fez a Bélgica maior e a França, menor. Não é uma boa ideia”, brincou o prefeito de Erquelinnes, David Lavaux.
Uma ‘ameaça’ diplomática
Assim que soube do incidente, Lavaux entrou em contato com a colega francês Aurélie Welonek, prefeita da cidade do outro lado da fronteira. “Fiquei feliz que minha cidade cresceu, mas o prefeito de Bousignies-sur-Roc, nem tanto”, riu.
Segundo o prefeito belga, o fazendeiro receberá uma carta, na qual será orientado a devolver a pedra ao local de origem. Caso isso não ocorra, ele pode ser indiciado criminalmente.
Caso não haja acordo e a pedra continue onde está, em último caso, o incidente pode reviver uma disputa fronteiriça que não ocorre desde 1930. Uma comissão franco-belga seria acionada para decidir o que fazer. Ambos os prefeitos acreditam que não seja o caso. “Acho que conseguiremos evitar uma guerra fronteiriça”, brincou Welonek.
Fonte: Estadão
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