Em uma mudança histórica, a maioria dos novos alunos matriculados na Universidade de São Paulo (USP) vem de escolas públicas. Depois de anos de discussões e polêmicas sobre reserva de vagas na instituição de ensino mais conceituada do País, foi cumprida este ano a meta ambiciosa estabelecida em 2017 de ter metade de seus novos alunos com esse perfil. É a primeira vez que isso é registrado pela instituição.
Das 10.992 vagas preenchidas, 51,7% foram ocupadas pelos alunos que estudaram na rede pública. Até 2010, o índice geral não passava dos 20%, sendo bem menor nos cursos mais concorridos.
Apesar disso, chegar aos mais pobres ainda é um desafio: a renda média da maioria dos ingressantes continua acima de cinco salários mínimos e menos de um terço do total dos estudantes é preto, pardo e indígena.
O especialista em políticas de acesso e permanência da Universidade Federal do ABC (UFABC), Wilson Mesquita de Almeida, avalia positivamente o avanço dos últimos 15 anos para a inclusão de pessoas de baixa renda no ensino superior, mas aponta a necessidade de maior atenção com o corte de renda familiar. Para ele, há um reforço do perfil classe média, que historicamente entra na universidade pública.
Para ampliar o alcance, segundo ele, ainda é necessário combinar políticas estruturais, como maior investimento na escola pública, no professor e democratizar o acesso à informação aos estudantes. “Além disso, é preciso mudar o vestibular: se eu não vi o conteúdo na escola pública, quando for fazer o vestibular fico com desvantagem em relação ao da escola particular”, afirma. Na pandemia, lembra, a desigualdade de aprendizado deve ser ainda maior.
Entre todos os ingressantes, 25% têm renda familiar acima de 10 salários. Na outra ponta, quase um terço (29,7%) dos discentes dispõe de até três.
Fonte Estadão
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