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Vacinados podem pegar covid-19? Saiba mais sobre caso de cirurgião que circula nas redes

A notícia da morte de um cirurgião tem sido compartilhada nas redes sociais e no WhatsApp com o objetivo de questionar a eficácia da vacina Coronavac. O médico Ricardo Gomes de Lemos morreu no dia 3 de abril. De acordo com a família, ele já havia recebido duas doses do imunizante, nos dias 28 de janeiro e 13 de fevereiro. O caso de Lemos, no entanto, ainda precisa de investigação e não significa que a vacina seja ineficaz ou insegura.

Hospital Albert Einstein, onde Lemos estava internado, não confirmou se a causa da morte foi por covid-19. Em nota distribuída para a imprensa, a família do cirurgião também não comentou esse ponto, mas o cunhado postou uma mensagem no Facebook dizendo que o médico “perdeu a luta para essa terrível covid”. Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde não quis repassar informações sobre o caso.

Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac no Brasil, comunicou que “é prematura e temerária qualquer afirmação sobre óbitos de pessoas vacinadas contra covid-19”. A instituição informou que é necessária uma investigação epidemiológica sobre a causa da morte, que deve levar em conta o “conjunto de aspectos clínicos, como comorbidades e outros fatores não relacionados à vacinação”.

O pesquisador Gustavo Cabral de Miranda, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) e da Fapesp, também afirma que não é possível tirar conclusões sobre a eficácia da vacina a partir de apenas um caso. “Já vacinamos milhões de pessoas no mundo e no Brasil, então nós temos a confiança, com base em dados, que as vacinas têm salvado vidas”, disse o especialista. “É preciso investigar individualmente casos extremamente isolados”.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgou nota em que pede cautela ao compartilhar casos de pessoas que foram infectadas com o novo coronavírus mesmo após a vacinação. “Em diversas situações, o intervalo entre o início dos sintomas e a aplicação da vacina não foi suficiente para a esperada resposta de anticorpos desencadeada pela vacinação. Ou seja, não houve tempo para impedir a infecção”, afirmou. “Além disso, falhas vacinais acontecem com qualquer vacina: nenhuma tem 100% de eficácia”.

O Butantan reafirmou a segurança da Coronavac, testada em mais de 12,5 mil voluntários, e lembrou que o objetivo do produto é “prevenir o agravamento de infecções pelo novo coronavírus”. “A resposta imune (proteção) requer a aplicação de duas doses no intervalo previsto em bula (de 14 a 28 dias) e não representa uma ‘barreira’ para a infecção”, afirmou o instituto. “É, portanto, essencial manter os protocolos não farmacológicos de prevenção, como distanciamento social, uso de máscaras e higienização”.

O Hospital Albert Einstein não indicou em que data o médico foi hospitalizado, nem se apresentou os primeiros sintomas mais de duas semanas após receber a segunda dose. A família também não divulgou essas informações.

De acordo com o Butantan, “algumas pessoas podem ainda desenvolver a doença mesmo tendo sido vacinadas, mas isso é exceção à regra”. Nos dados apresentados à Anvisa sobre os testes com a Coronavac, a instituição mostrou que nenhum dos 6.110 vacinados tinha desenvolvido a forma mais grave da covid-19 — ocorre que apenas um dos 6.128 voluntários no grupo de controle (que recebeu o placebo, substância sem efeito) teve complicações que precisaram de hospitalização na UTI. Por isso, o dado de que a vacina evitaria 100% dos casos muito graves é estatisticamente insignificante.

“O que eles tinham é que, em casos documentados até aquele momento, ninguém chegou a desenvolver casos graves que tenham levado à morte”, explica Miranda. “E o primeiro objetivo, na verdade, de todas as vacinas é esse, evitar casos graves que venham a causar fatalidades”.

Em relação à prevenção de casos moderados (que precisam de hospitalização) e leves (necessitam de assistência médica), a vacina se mostrou 78% eficaz. Nenhum dos voluntários dos estudos com a Coronavac morreu ou teve reação alérgica grave. Até o momento, não há qualquer registro de mortes causadas pelo imunizante.

Vacinas continuam a ser monitoradas, mesmo após a aprovação pela Anvisa. É a chamada fase 4, de farmacovigilância. De acordo com a SBIm, é preciso aguardar dados mais robustos para tirar conclusões sobre possíveis falhas vacinais. “Todas as notificações estão sendo acompanhadas e investigadas pela Vigilância. Precisamos aguardar a publicação dos dados da avaliação da efetividade das vacinas na vida real (fase 4) e sobre possíveis falhas vacinais”, informou a instituição em nota.

Em reportagem recente, o jornal O Globo explicou por que algumas pessoas podem desenvolver a doença mesmo depois da vacinação. Especialistas comentam que, no momento da infecção, os indivíduos podem ainda não ter gerado uma resposta imune suficiente, que é esperada dentro de duas a três semanas após a aplicação da segunda dose. Destacam ainda que a incidência de casos graves excepcionais na população imunizada não significa que as pessoas devam deixar de tomar as vacinas, mas reforça a necessidade de cuidados, principalmente em grupos mais expostos, enquanto a circulação do vírus no País continua alta.

O pesquisador do ICB/USP Gustavo Cabral de Miranda afirma que manter as medidas individuais de proteção, como distanciamento social e uso de máscara, também é importante para evitar que o vírus seja transmitido para outras pessoas que ainda não receberam a vacina. “Se você pegar esse vírus, a vacina faz com que ele não desenvolva muito no corpo, não alcance uma carga viral alta, mas pode ser que você acabe transmitindo para outras pessoas suscetíveis. E isso pode causar a morte do outro, por falta de responsabilidade em continuar se cuidando”.

Pouco mais de um mês após o início da vacinação de grupos prioritários, em janeiro, a internação de idosos acima de 90 anos caiu 20%. O grupo de brasileiros com 60 anos ou mais teve redução de 2,7% nas hospitalizações. Os números levantados pelo Estadão em 14 de março apontam um possível impacto positivo da vacinação no País.

Fonte: Estadão

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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