Em momentos distintos, dois ex-presidentes, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ocuparam o noticiário analisando o intrigante cenário brasileiro. O petista, como é de seu agrado, optou por conjeturas na imprensa de outro País, no caso específico a Argentina, afirmando que amargamos uma crise de 39 graus, que ninguém morre desse mal e que basta tomar o remédio adequado e pronto. Reconheceu a fragilidade do Governo e deixou claro que a solução está na política. Sobre o impeachment, foi enfático, lembrando que não se pode recorrer ao processo só porque existem problemas econômicos.
FHC ocupou as páginas de jornais influentes, “O Globo”, “O Estado de São Paulo” e “El País”, reconhecendo que a crise é grave e que o remédio não está apenas na saída de Dilma, mas na formação de um novo bloco de poder, que tenha força para reconstruir o País. Essa estrutura seria composta não só por diversas legendas, mas de um pacto com o empresariado, sociedade e entidades civis. O tucano diz que é preciso um reconhecimento explícito da situação pré-falimentar em que nos encontramos. Acrescentou que, ao sugerir a renúncia da presidente, o fez porque no fundo este é o grito parado no ar.
Embora com enfoques impregnados ao caráter particular de cada um deles, parece-me claro que os pontos convergentes prevalecem mais do que os antagonismos naturais entre os adversários. Ambos torcem o nariz para o impeachment e não enxergam sequer uma rima capaz de tirar o País do atoleiro. Fernando Henrique considera a saída de Dilma, por conta própria, um gesto de grandeza que facilitaria a empreitada. Mas não acelera em nenhuma outra curva.
Note o leitor que o centro nevrálgico capaz de provocar gritos e febres, se enrasca em Dilma Rousseff. Numa charada macabra capaz de destruir anos de árduo trabalho na construção do País, ela é, ao mesmo tempo, o problema e a solução. Num misto de teimosia, incompetência abismal, complexo e ausência de capacidade para exercer o cotidiano da política, Dilma enfiou a economia no lamaçal, e num gesto de arrogante hipocrisia, finge que a quizila não tem nada a ver com sua inabilidade. Pois é.
As soluções, apontadas por dois veteranos que ocuparam o trono e souberam contornar dificuldades, esbarram no temperamento da chefe de Estado. Dilma não é Lula. A bem da verdade, hoje ela sequer sabe quem ela é e não tem habilidade para tricotar os meandros da política. Não vai adquirir o talento apenas porque a ocasião exige. Menos ainda, conseguirá liderar um bloco unido com poderes para colocar a locomotiva nos trilhos. Para isso, teria que possuir a capacidade do diálogo demonstrada por FHC.
É de assustar que estamos pendurados no precipício econômico, com uma alma imprevisível e temperamental, a segurar uma corda que pode soltar ou puxar ao seu critério e deleite. Vagando sem rumo e cercada de interlocutores sem carisma ou moral com a população, a Presidente gasta, de forma rápida e estonteante, as últimas reservas capazes de impedir uma catástrofe maior do que já se admite.
Não possui o aval de mais ninguém. Até os tais movimentos sociais que agem protegendo o próprio umbigo e de olho apenas no dinheiro da viúva, saem em sua defesa, mas sem concordar com suas atitudes. É um figura patética que ora escuta Lula, ora age por impulso e governa como se estivesse numa quadrilha de São João: “Olha a CPMF! É mentira!” . O Brasil está em chamas e ela se convence que o problema foi a China. Gestos de grandeza não fazem parte de seu currículo. Aliás, até seu histórico acadêmico foi uma jogada de marketing. Aposto que João Santana, que faturou milhões e pode se dar ao luxo, está pensando em cair fora do barco que se afunda. Aos outros, da arraia miúda que pagam o pato, resta rezar. E muito…
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