Economia

Turismo e hotelaria apostam em venda antecipada e modernização

Se para frear a propagação do coronavírus é preciso interromper o contato entre pessoas, viajar se torna não factível. O setor ficou, então, com o maior tombo da crise. Não poderia ser diferente com as franquias de Hotelaria e Turismo. Juntas como segmento, faturaram 49,8% menos em 2020, na comparação com o ano anterior.

Com a segunda maior queda de faturamento do franchising (29%), Entretenimento e Lazer foi também a área com mais unidades fechadas: perdeu 15,4% no ano passado, quando comparado com 2019. Embora tenham ocorrido flexibilizações desde o início da pandemia, o cenário continua difícil, exigindo soluções disruptivas desses negócios em 2021.

Em busca disso, o setor de turismo vem apostando na venda antecipada – “compre agora, viaje depois” – e na modernização de empresas e serviços. Mas o futuro de eventos e viagens corporativas, parcela importante desse mercado, só deve ficar mais claro com o avanço da vacinação no Brasil.

Diante desse cenário, Eliane Vomero conta que ouviu de muita gente que era “louca” por abrir uma loja de rua da Clube Turismo em plena pandemia. “Em julho de 2019, eu já tinha feito esse investimento. Comprei uma casa aqui em Guarulhos (SP) e a reforma começou em janeiro do ano passado. Inaugurei em novembro de 2020, com dor no coração. Não entrava ninguém”, conta a franqueada, que desde 2015 trabalha com a marca, antes numa sala comercial.

Eliane elogia a postura da franqueadora ao longo da crise. “O corpo jurídico explicava tudo o que a gente tinha de cobrar das companhias aéreas e da hotelaria. Negociei com a minha empresa de contabilidade um desconto de 50% por ideia da franqueadora. A matriz tem um departamento de mídia social. Fizeram várias lives ensinando como montar material e estar presente nas redes sociais.”

A empreendedora Eliane Vomero (ao centro) com funcionárias de sua franquia Clube TurismoTABA BENEDICTO/ESTADÃO

No auge da crise, quando tudo estava parado, ela diz que a Clube Turismo recomendou manter a presença digital, mas sem tocar em venda de produtos. “Eles disseram ‘ninguém vai oferecer pacotes porque não é hora, mas vamos falar de viagem, de culinária’. Para mim, foi momento de capacitação, de investir para a retomada com a demanda reprimida.”

A empreendedora espera recuperar o investimento feito na loja só em 2022, mas já teve vendas desde o início deste ano. “No turismo, em janeiro e fevereiro, a gente não espera nada porque já são férias. Pois foram os meses em que a gente mais vendeu. As pessoas estavam buscando segurança, e o agente pode dizer: ‘neste momento, esse lugar não é recomendado’. Nosso papel está mais valorizado.”

Desde março de 2020, Eliane conta que focou na solução dos problemas que foram surgindo. “Todos os nossos passageiros optaram por remarcação ou carta de crédito pela confiança que sentem. Eu não tive um reembolso.”

A matriz tem um departamento de mídia social. Fizeram várias lives ensinando como montar material e estar presente nas redes sociais. Para mim, foi momento de capacitação”

Eliane Vomero, franqueada da Clube Turismo

Ana Virginia Falcão, CEO e cofundadora da franquia Clube Turismo, afirma que a capacitação de temas como legislação, finanças e marketing esteve entre as ações de suporte à rede, ao lado de descontos nas taxas mensais, ainda em vigor. A marca também criou o Credviagem.

“Em meados de 2020, percebemos que os nossos clientes queriam comprar a viagem, mas tinham medo de não poder viajar. Esse produto permitiu que pudessem manter o planejamento financeiro dando a eles a flexibilidade de escolha de destino e data da viagem sem penalidades na ocasião de emissão dos serviços.”

A empresa, fundada em 2003, começou sua expansão com franquias cinco anos depois. No ranking da Associação Brasileira de Franchising (ABF), conta da lista das 50 maiores em número de unidades, tanto no balanço de 2019 quanto no ano passado. “Temos 47 lojas, sendo duas próprias. Desse total, cinco estão em processo de implantação. Vale destacar que cinco lojas já foram inauguradas desde o início da pandemia”, diz Ana Virginia.

A rede tem 55 franqueados atuando no modelo Home Office Prime (com investimento mínimo de R$ 20 mil e empresa registrada; ponto comercial opcional) e 462 franqueados no Home Office (R$ 5,9 mil). Em lojas físicas, o empreendedor tem de dispor ao menos de R$ 68 mil.

VENDAS POR VÁRIOS CANAIS E SUSTENTABILIDADE NAS LOJAS

 

Líder em viagens e a 7ª maior franquia do País, segundo relatório de 2020 da ABF, a gigante CVC teve cerca de 270 lojas fechadas desde o início da pandemia, com a crise no setor, porém registrou a abertura de outras 23 unidades – o custo de implantação (estrutura e ambientação) começa em R$ 60 mil. Atualmente a marca conta com 1.149 lojas.

“As vendas estão crescentes e já temos novas franquias. A vantagem é que a gente não cobra nem royalties nem taxa de marketing”, diz Leonel Andrade, CEO da CVC Corp.

Modelo de loja nova da CVC: mais moderna e digitalDIVULGAÇÃO

A empresa viu a necessidade de modernização, tanto nas lojas físicas quanto na atuação digital. “A CVC é a empresa que ensinou o cliente a viajar, mas sempre foi a empresa da primeira vez. Não investiu no mundo digital. Os clientes aprenderam a viajar e começaram a usar a internet sozinhos. A CVC não se modernizou por meio de aplicativos, de conteúdo”, reconhece Andrade, acrescentando que a empresa investe no cartão próprio e no programa de fidelidade.

“É um programa em que a pessoa junta com pontos que tem no banco, que conseguiu viajando ou por frequentar um restaurante, e transforma numa moeda. Com uma vantagem, a gente tem todas as companhias aéreas e os hotéis aqui. Para o franqueado, isso tudo é importante, traz recorrência e receita.”

Daniela Bertoldo, diretora executiva dos Negócios B2C da CVC Corp, conta que o grupo tomou uma série de medidas de apoio à rede, envolvendo digitalização, uso de multicanais de venda, capacitação para atendimento em home office e marketing em redes sociais.

1.149 
é o número atual de lojas do grupo CVC, a 7ª maior rede de franquias do País, segundo a ABF; foram fechadas cerca de 270 lojas na pandemia

 

“Outra iniciativa foi o lançamento do Orçamento Dinâmico. O cliente recebe um link com o orçamento da viagem e o valor é atualizado constantemente, dando a ele a liberdade de escolher os melhores dia e horário para finalizar a compra, que, mesmo online, tem comissionamento direcionado à loja que iniciou o atendimento”, diz. “Nos anúncios na TV, o QR code direcionava o atendimento via WhatsApp para a loja mais próxima, identificada por geolocalização.”

As mudanças extrapolam a crise da pandemia. No fim de maio de 2021, a CVC Corp lançou o RePrograma, estratégia de sustentabilidade e diversidade com o intuito de tornar a companhia uma referência em princípios ESG (sigla para social, ambiental e governança) no setor.

“O programa está inserido em todo o conceito da nova loja. Adotamos práticas sustentáveis desde os materiais de construção, por exemplo, até itens utilizados na loja, e também inserimos espaços dedicados, como as lixeiras, que serão um ponto para coleta de materiais como pilhas e baterias”, diz Daniela.

HOTÉIS COMO HUB DE SERVIÇOS

 

De todos os setores de viagens talvez o que tenha se transformado mais seja a hotelaria. Além das vendas antecipadas e promoções de diárias, comuns em tempos de pouca ocupação, as redes repensaram o uso de seus espaços, virando um hub de serviços.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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