Que esta foi a mais sangrenta campanha política desde a redemocratização do País poucos duvidam. O lado mais perverso, e que deve ser analisado na profundidade que merece, foi o reinado da mediocridade que afastou os eleitores do exercício da democracia. A disputa, cujo resíduo foi o de concluir que ninguém presta, fez 27,44% dos eleitores negarem a sufragar qualquer nome para a presidência da República: 1,71% dos votantes decidiram pelo branco; 4,63% pelos nulos e 21,1% se ausentaram.
Os dados indicam que Dilma Rouseff se fez presidente por vontade de 38% dos eleitores. Nada retira a legitimidade de sua reeleição, nem a importância do resultado das urnas. Mas urge que ela possa entender os motivos que levaram mais de 51 milhões de brasileiros a votaram em Aécio Neves e dos 32 milhões que não acreditaram em ninguém.
Concluir que o Brasil rachou ao meio, num rastro de rancor que atiçou ódio, principalmente contra os nordestinos, é uma conclusão simplista que joga para debaixo do tapete os reais problemas da politiquice brasileira. O pior dos sintomas, numa doença que está longe de ser entendida pela classe política, é o desalento, a falta de esperança, dos que almejam uma nação sem corruptos e corruptores.
Estamos nos afundando numa descrença que joga os humores nacionais na UTI. Poucos acreditam em dias melhores. Numa rapidez que assusta, estamos nos transformando num País de cínicos, com o grosso da população acreditando que os fins justificam os meios e que o crime, a bandalheira e esperteza compensam.
Desperdiçamos meses, num custo operacional fabuloso aos cofres públicos, em campanhas de rádio e TV sem discutir, com a seriedade que merece, os graves problemas que afligem a nação. A lama que jorrou de todas as partes, numa mesmice que se fez presente na guerra em busca do poder nos Estados, impediu o confronto de ideais que o eleitor merece, considerando que pagamos a mais alta carga tributária do planeta, de longe a mais injusta e mal aplicada.
Resultado: depois de investir milhões de reais do contribuinte, a democracia ficou mais frágil, menos eficiente e mais conspurcada do que nunca. No campo das ideias e propostas, acabou vencendo a mediocridade. Os marqueteiros, claro, saíram cantando vitória porque a eles, que enriqueceram como nunca, interessa apenas o embate vulgar e a pasmaceira de sempre.
Para os ordinários da política, quanto mais se permanecer na cartilha do atraso, mais atrativa se torna a lambança que rende dinheiro. Mudar a estrutura vigente significa perder o controle das massas ignorantes, facilmente manipuladas pelas estratégias de ocasião.
Eis que, um pleito atrás do outro, continuamos atolados no que existe de mais ordinário. O que funcionou nas eleições para Presidente e Governador será aproveitado daqui a dois anos nos embates para o trono das prefeituras. Não se admirem se estes 27,44%, que desprezaram uma decisão nas urnas, se transformem em 50% ou 60%. O que se viu, viveu e se azedou, provoca náuseas. Não é solução alguma, mas dá vontade de não participar de mais nada. Esse é o pior dos sentimentos. É tudo o que os ratos querem.
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