Saúde

Tratamento do câncer não pode esperar a pandemia passar.

Foto: Media Lab Estadão

Em novembro de 2020, o engenheiro de produção Luiz Sant’Anna Júnior, de 25 anos, recebeu a notícia que esperava por mais de um ano e meio: a remissão do câncer. O envelope com o resultado dos exames laboratoriais e de imagem para acompanhar a evolução do linfoma de Hodgkin que o jovem havia identificado em 2019 ficou fechado por cinco dias. Ele tinha planejado um fim de semana na casa de um amigo no interior – após testes de covid e todos os cuidados que puderam tomar –, e não queria que uma notícia possivelmente negativa atrapalhasse as férias. “No dia 30 de novembro eu vi o resultado, e foi muita emoção. Eu e minha mãe nos abraçando, pulando, os cachorros pulando atrás, ligamos para os amigos e a família mais próxima…”, conta ele.

Sant’Anna Júnior estava em tratamento desde o início do ano, após longos meses de exames e consultas para identificar a doença. Quando o novo coronavírus tomou o Brasil com mais intensidade em março – e no Recife (PE), onde ele mora, em abril –, algumas das consultas passaram a ser online, mas o tratamento não foi interrompido. “Eu penso que um paciente que decide não ir (ao tratamento) está se arriscando muito mais do que se for. O risco maior para o paciente não deve ser o medo de contrair o vírus. O medo deve ser que o câncer mata”, afirma. Vale ressaltar que ele teve a doença diagnosticada ainda cedo, em fase 1. Com a experiência do avô materno, que havia morrido da mesma doença em 2018, o jovem estava atento aos sinais para um possível linfoma.

Diferentemente de Sant’Anna Júnior, milhares de brasileiros deixaram de marcar consultas ou exames que poderiam ajudar a identificar tumores desde o começo da pandemia. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimava que em 2020 o País teria aproximadamente 625 mil novos casos da doença[1]. No entanto, já nos dois primeiros meses da pandemia, estima-se que entre 50 mil e 90 mil brasileiros tenham deixado de receber o diagnóstico, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO)[2]. “A epidemia do câncer já está anunciada. A pandemia da covid foi uma surpresa”, frisa Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado Pela Vida.

“Diferentes grupos de pessoas lidaram de formas distintas com a pandemia. E em particular entre os pacientes com câncer houve uma reação inicial de muito medo associado à doença. Muitas pessoas deixaram de fazer exames de detecção”, relata o oncologista Carlos Barrios. “Era um momento em que morriam 700 pessoas por dia na Itália. Eu pensava: se chegar aqui e eu pegar, vou morrer”, conta Sant’Anna Júnior.

2021: o ano do cuidado

Passado o medo inicial, tanto médicos quanto pacientes foram aprendendo a lidar com a pandemia e identificaram formas seguras de seguir os tratamentos, ou iniciá-los. “Os protocolos adotados desde a primeira visita (à clínica) me fizeram sentir confortável. Acaba se tornando uma rotina. Você sabe exatamente o que vai acontecer: quem vai falar contigo, o que vai ser falado, como pode ou não agir, o que pode tocar ou não”, relata o paciente Sant’Anna Júnior.

Algumas consultas foram adaptadas a plataformas virtuais – algo que Barrios acredita que veio para ficar em diversos casos –, mas o tratamento presencial se mantém necessário, e o sistema de saúde está preparado para receber esses pacientes, garante o médico. Quanto mais cedo o câncer for identificado, melhor. “A diminuição do diagnóstico fez com que os casos que serão diagnosticados mais tarde venham mais graves. E isso leva a uma consequência inevitável: a mortalidade pela doença deve ser maior nos próximos anos.”

Para lembrar da importância das consultas e da continuidade do tratamento do câncer nesse momento de pandemia, a AstraZeneca lançou a campanha “O normal mudou, o câncer não”. Com diversas parcerias, inclusive com o Instituto Lado a Lado Pela Vida, a ideia é encorajar esses pacientes e fazer de 2021 o ano do cuidado. “O câncer não espera a pandemia passar. É importante que haja mais campanhas como essa, que em todos os lugares a gente fale sobre isso”, diz Marlene Oliveira. “Os pacientes ainda estão inseguros e um pouco confusos no Brasil. Precisamos de vozes que mostrem caminhos assertivos.”

Quem convive com os pacientes em tratamento oncológico também tem papel fundamental nessa conscientização, garante Barrios, que vê no consultório a importância do apoio de amigos e familiares. Para Sant’Anna Júnior, o acompanhamento da família, de amigos e até mesmo da chefia e dos colegas do trabalho foi essencial, conta ele. E adiciona: “As pessoas recebem o diagnóstico de câncer como se estivessem recebendo um atestado de óbito. Isso não é verdade. Existem várias formas de tratamento, a ciência avançou muito, é absurdo como o conhecimento humano cresce. O diagnosticado com câncer precisa viver, aprender a continuar vivendo”.

Fonte: Estadão

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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