Roberto Carlos, Xuxa, censura e besteirol.
Em mais um de seus faniquitos ditatoriais, Roberto Carlos despreza uma coroa de méritos dignamente conquistados para se desfigurar como rei da censura que não faz sentido. Os ultra-zelosos advogados do cantor lavraram uma notificação extrajudicial que pede a interrupção da venda e o recolhimento do livro Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, de Maíra Zimmermann.
A notificação diz que o livro tem situações que envolvem Roberto Carlos e traz “detalhes sobre a trajetória de sua vida e intimidade”. Inclusive a caricatura da capa violaria os direitos do artista. Chocada, surpresa e decepcionada, Maíra Zimmermann demonstra com muita clareza que o livro é uma pesquisa séria, resultado de seu mestrado. Uma obra honesta, ética em todos os sentidos, e que narra aspectos relevantes do movimento cultural juvenil nos anos 60.
Eterno menino mimado, Roberto Carlos, que já chegou a entrar na rua Augusta a 120 por hora, e usufruiu de todas as situações de irreverência que lhe podiam convir quando buscava o sucesso, devia se entregar ao papel de ancião e crescer um pouco. Ao proibir a biografia não autorizada, que contava sua vida com leveza e paixão, o garotão do Iê, iê, iê provou que renega o passado como se a história fosse deixar de existir apenas porque bons advogados são capazes de esconder verdades e sujeiras embaixo de um tapete protegido pelas brechas da justiça.
Seus arroubos de bedel da censura demonstram uma cultura mediana, tacanha na essência, que joga lama e diminui sua importância no contexto da boa música brasileira. Ora, o que imagina o soberano Roberto. Que ninguém tem o direito de analisar, investigar e escrever sobre os bons tempos do mexerico da Candinha, do brotinho sem juízo, do tempo que ele “ parou na contra mão”, mandou tudo para o inferno, do lobo mau e outras delícias da juventude?
Assim como Xuxa, outra estrela que usa a justiça como borracha para apagar o passado e com seus justificáveis êxtases hormonais, Roberto Carlos se ilude pensando que só vamos enxergar nele a espiritualidade de quem louva, como poucos, Jesus Cristo e Ave Maria em arranjos admiráveis.
Sai dessa paranoia ó meu Rei. Os seres humanos, o que inclui até tu um filho de Deus que nasceu bruto e foi se burilando, se erguem e se agigantam com erros e acertos. Se tornam pequenos apenas quando procuram fingir, por artimanhas, engodos e pressões, que são apenas pedaços de um todo. O mito Roberto Carlos, que todos admiramos, não merece ser confundido com essa mesquinharia de censurar historiadores.
Rosenwal Ferreira: Jornalista e Publicitário
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Prezado Rosenwal
Gostei de seu artigo mas queria fazer uma correção:
A música “Rua Augusta” que contém o verso citado em seu texto “…entrei na Rua Augusta a 120 por hora…” não é de autoria nem foi interpretada por Roberto Carlos.
Na verdade, fez muito sucesso na voz do falecido cantor e precursor da Jovem Guarda Ronnie Cord em 1964.
Mais outra correção.
Nem todos admiram o mito Roberto Carlos.
Existem no Orkut várias comunidades que o detestam, tanto artìsticamente como pessoalmente.
Ainda bem que é assim pois como já dizia Nelson Rodrigues: “a unanimidade é burra”.