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Quem pariu Mateus?

A expressão “Quem pariu Mateus que o embale” tem uma origem incerta. A explicação mais aceita pelos historiadores é a de que Jesus decidiu acolher Mateus entre seus iscípulos, mesmo sendo ele um cobrador de impostos para Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia. Após o chamado, Mateus convidou Jesus para um banquete em sua casa. Ao ver isto, Jesus foi criticado pelos fariseus, por cear com coletores de impostos e pecadores. Segundo eles, só seria capaz de gostar de um cobrador de impostos a sua própria mãe. Somente ela, havendo parido Mateus, teria a obrigação de embalá-lo.

Com décadas de premeditado descaso, num misto de hipocrisia e irresponsabilidade social com múltiplos atores, conseguimos abortar uma absurda mixórdia, um monstrengo, nas penitenciárias brasileiras. A concepção, errada até os ossos, sempre foi a de que, ao cometer um delito, o sujeito podia ser jogado numa masmorra medieval e, tendo sorte, poderia no máximo receber a visita da genitora que, afinal das contas, cometeu o despautério de expelir o criminoso do útero e só a ela, coitada, cabia oferecer algum alento ao malfeitor. Nessa linha tosca de raciocínio, o que devia ser uma costura para impedir a escalada de criminalidade e violência, se transformou numa moenda capaz de alimentar mais problemas ao cidadão de bem. Os que tiveram o infortúnio, ou foram bestas o suficiente para entrar no túnel das grades, passaram a conviver numa universidade do mal.

Apenas essa constatação devia ser o suficiente para acordar a nação e imprimir novas estratégias no segmento de correção social. Como ninguém se lixou, passando o brutal problema para o administrador seguinte, reitores de pavilhões superlotados perceberam que era possível tirar proveito da própria massa carcerária, organizando as quadrilhas dentro do quadrilátero teoricamente criado para evitar suas ações. Sendo assim, com tudo correndo frouxo e sem que o prisioneiro recuperável tivesse a quem recorrer, surgiram organizações nos moldes de uma verdadeira Wall Street bilionária, de chinelos e sem ar condicionado. A fritura chegou ao ápice. Tem remédio? Assim como o câncer, tem. Vai requerer sessões extras de quimioterapia, um conjunto de bons especialistas e muito esforço. Mas não funcionará com as doses já conhecidas de chá com folhas criadas no fundo do quintal.

Nada adianta oferecer mais do mesmo. Santa ingenuidade achar que apenas construirmais presídios é uma solução. Não é só isso. Urge organizar o que já existe, atuar firme desmantelando as máfias encasteladas e, principalmente, mostrando que as leis funcionam para quem merece. É algo extremamente delicado e que não mantém respaldo entre o povão ignorante. Falar em condições adequadas de encarceramento é mexer em caixa de maribondo. Dar condições a bandido, que só pode ser bom se for morto, é encrenca na certa.

Cabe esclarecer, num amplo programa bem ajustado, que é por egoísmo, em defesa do cidadão de bem, que se deve manter celas limpas, presídios com o mínimo de conforto e, de quebra, pagar advogados para liberar quem já pagou a pena. Esse, hoje, é um dos mais importantes desafios brasileiros. Temos de encarar. Nesse caso, não adianta imaginar que foi uma mãe gentil qualquer a parir a aberração capaz de cortar cabeças na babel de uma barbárie em escalada. Os filhos são nossos, vieram do seio da toda a nação brasileira. De uma forma ou outra, voltam para casa. Melhor ou pior do que saíram.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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