O patamar elevado de novos casos de covid-19 diariamente no Brasil já sinaliza o aumento do número de mortes nas próximas semanas. Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde encontra obstáculos para concretizar as previsões de entregas de vacinas — houve redução em março e agora em abril.
Em março, pior mês da pandemia no país até agora, o Ministério da Saúde, sob a gestão de Eduardo Pazuello, havia prometido entregar 46 milhões de doses de vacina, mas foram enviados 20,3 milhões a estados e municípios.
O governo contava com 8 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, mesmo sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que barrou a importação das doses após a planta da empresa Bharat Biotech não cumprir requisitos de boas práticas de fabricação.
O imbróglio envolvendo o pedido de uso emergencial da vacina russa Sputnik V — com documentação pendente — jogou um balde de água fria nos planos do ministério, já que o governo contava com 600 mil doses do imunizante disponíveis neste mês.
Na produção nacional, Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Instituto Butantan também enfrentam dificuldades e cortaram parte das previsões de entrega.
O caso da Fiocruz é o mais preocupante, já que o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) chegou a estimar a entrega de 15 milhões de vacinas em março, mas foram somente 2,8 milhões.
O motivo foi um problema no processo de lacre dos frascos que paralisou a linha de produção por uma semana. Agora, a instituição alega que há dificuldades em transportar insumos da China para o Brasil, algo que também pode alterar o cronograma.
“De uma maneira geral, o Brasil está com problema de insumos para a indústria, não só a indústria farmacêutica. A informação dada à imprensa é que muitas empresas de transporte de cargas estão se recusando a fazer voos para o Brasil. Isso explica em parte essas sucessivas diminuições da preparação das vacinas pelo Butantan e pela Fiocruz. Provavelmente, um dos pontos mais importantes que abrange a questão das vacinas é regularizar o suprimento de insumos. Ou seja, se não tem companhias estrangeiras que não querem vir, temos que pegar as companhias nacionais e mandar buscar”, acrescenta Waldman.
Diversas cidades tiveram que suspender as campanhas de vacinação nos últimos dias por falta de doses. “Cada vez que eu empurro para a frente [a entrega de vacinas], estou criando mais mortos”, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, fundador e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Na avaliação do ex-diretor da Anvisa, os imprevistos ocorridos na Fiocruz precisam ser justificados. “A Fiocruz tinha que ser chamada para se justificar perante a sociedade, para entendermos qual é a chance de isso acontecer de novo daqui para a frente. Estamos vivendo uma situação extremamente grave. Não se pode dizer que vai fazer X e fazer X menos qualquer coisa a todo instante”, argumenta.
Fonte: R7
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