Política

Presidente do Haiti é assassinado; crime agrava ainda mais crise no país

O presidente do Haiti, Jovenel Moïse,  e a primeira-dama Martine Moïseforam mortos em um ataque à residência oficial do governo na capital Porto Príncipe, anunciou nesta quarta-feira, 7, o primeiro-ministro do país, Claude Joseph. Martine, teve a morte confirmada horas mais tarde, depois de ter sido levada a um hospital da capital.

Joseph afirmou em um comunicado que “um grupo de indivíduos não identificados, alguns dos quais falavam em espanhol, atacou a residência privada do presidente da República” por volta da 1h e “feriu mortalmente o Chefe de Estado”.

O premiê pediu à população “que se acalme” e afirmou que “a situação da segurança no país está sob o controle da Polícia Nacional haitiana e das Forças Armadas do Haiti”. “Todas as medidas estão sendo tomadas para garantir a continuidade do Estado e proteger a nação”.

Moïse, ex-empresário que construiu diversos negócios no norte do país, de onde é natural, irrompeu no cenário político em 2017 com uma mensagem de reconstrução.

Ele fez campanha com promessas populistas, mas manteve a retórica mesmo depois de ser eleito em fevereiro de 2017.

O presidente vinha enfrentando forte oposição de setores da sociedade que consideravam seu mandato ilegítimo.

Nos últimos quatro anos, por exemplo, devido à pressão política, o país teve sete primeiros-ministros e uma nova troca estava programada. Joseph estava seria substituído esta semana após três meses no cargo.

A Casa Branca chamou o crime de “horrível” e disse que os Estados Unidos estão dispostos a ajudar na investigação.

A porta-voz do governo, Jen Psaki, declarou que os Estados Unidos vão “ajudar o povo do Haiti, o governo do Haiti se houver uma investigação”, acrescentando que a Casa Branca “ainda está coletando informações” e que o presidente Joe Biden será informado sobre o ataque em breve.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que ficou “chocado” com este “ato hediondo”.

Crise política

A instabilidade política no país se acentuou nos últimos meses após as autoridades haitianas terem frustrado uma “tentativa de golpe” de Estado contra o presidente, que teria sido alvo de um atentado mal sucedido em fevereiro.

Na ocasião, mais de 20 pessoas foram presas durante a suposta tentativa de golpe, entre eles o juiz do Tribunal de Cassação — maior instância da Justiça haitiana — Ivickel Dabrésil e a inspetora geral da polícia nacional, Marie Louise Gauthier. “O juiz organizou um complô para dar um golpe de Estado para desestabilizar o país”, disse o ministro da Justiça, Rockefeller Vincent.

“Agradeço ao responsável pela minha segurança e pela do palácio. O sonho dessa gente era atentar contra minha vida. Graças a Deus isso não ocorreu. O plano foi abortado”, disse Moïse na ocasião.

A oposição negou uma tentativa de golpe, mas há meses pressionava pela renúncia de Moïse e pela nomeação de um presidente interino para um período de transição – um dos cotados para ocupar o cargo era justamente o juiz Dabrésil.

Moïse governava o Haiti sem o controle do Legislativo desde o ano passado e dizia que ficaria no cargo até 7 de fevereiro de 2022, em uma interpretação da Constituição rejeitada pela oposição. Para eles, o mandato do presidente havia terminado em 7 de fevereiro deste ano.

 

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O presidente do Haiti, Jovenel Moise, assassinado nesta quarta-feira, 7, segundo o governo local. Foto: (AP Photo/Dieu Nalio Chery, File)

Para além da crise política, os raptos para resgate têm aumentado nos últimos meses, refletindo a crescente influência de grupos armados no país.

O Haiti também enfrenta pobreza crônica e catástrofes naturais recorrentes.

Histórico de problemas institucionais

A atual crise institucional no Haiti se iniciou na última eleição presidencial, realizada em 2015. No país, o mandato do presidente dura cinco anos e começa no dia 7 de fevereiro do ano seguinte às eleições.

As eleições de outubro de 2015 terminaram com a vitória de Moïse no primeiro turno, mas a votação foi anulada após denúncias de fraude. Declarado vencedor na eleição organizada um ano depois, o atual presidente assumiu o cargo finalmente em 7 de fevereiro de 2017.

O “atraso” no início do mandato, entretanto, causou uma controvérsia constitucional: Moïse diz ter direito a um mandato de 60 meses, enquanto a oposição afirma que o presidente teria que sair do poder no domingo passado, cumprindo o prazo referente à eleição de 2015.

 

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Jovenel Moïse ao lado da esposa, a primeira-dama Martine Moïse,após a vitória eleitoral.  Foto: REUTERS/Jeanty Junior Augustin/File Photo

“Minha administração recebeu do povo haitiano um mandato constitucional de 60 meses. Esgotamos 48 deles. Os próximos 12 meses serão dedicados à reforma do setor energia, realização do referendo e organização das eleições”, tuitou Moïse na época.

No entanto, o Conselho Superior Judicial do Haiti determinou o fim do mandato de Moïse. Na resolução, o conselho se declarou “extremamente preocupado com as graves ameaças resultantes da falta de um acordo político ante a expiração do mandato constitucional do presidente”.

Desde janeiro de 2020, o Haiti não tem um Parlamento em funcionamento, de modo que o presidente governa por decreto, o que aumenta a desconfiança do povo. “A democracia está ameaçada e o Estado de Direito está em perigo”, afirmou André Michel, porta-voz do Setor Popular Democrático, partido de esquerda do país.

Referendo

Além das eleições presidenciais, legislativas e locais, o Haiti planeja realizar um referendo constitucional em setembro, depois de ter sido adiado duas vezes devido à pandemia do coronavírus.

A reforma constitucional, apoiada por Moïse e destinada a reforçar o poder Executivo, tem sido esmagadoramente rejeitada pela oposição e por muitas organizações da sociedade civil.

A atual Carta Magna do país foi redigida em 1987, após a queda da ditadura de Duvalier, e declara que “qualquer consulta popular destinada a modificar a Constituição por referendo é formalmente proibida”.

Os críticos têm também afirmado que é impossível organizar um referendo devido à insegurança no país.

Fonte Estadão

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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