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Porque vou torcer contra a seleção brasileira?

        No auge do regime militar, eu fiz parte de um restrito grupo de brasileiros que torceu contra a imbatível seleção dos canarinhos. Muito jovem, e temeroso frente às reações imprevisíveis, minha reação do contra foi silenciosa, tímida, num misto de angústia e vergonha. Embora minhas razões fossem sólidas, embasadas por intelectuais mais velhos com os quais eu tiver o prazer de conviver, não era fácil vencer a contagiante alegria popular frente aos gols e vitórias que embriagavam o país.

    No final, ao mesmo tempo derrotado e vitorioso, fui para a farra com direito a um dos primeiros porres de cerveja e beijos a granel. À época, aconteceu o que se temia, o regime das baionetas utilizou a copa do mundo para manter- se algumas décadas a mais na ditadura que atentou contra as liberdades do brasileiro.

    Os motivos que me levam a desejar o infortúnio da seleção na copa versão 2014 se agastam em azedumes que justificam essa atitude. Ao contrário do que se julga precipitadamente, não se trata de falta de patriotismo. Pelo contrário, para mim o Brasil está acima do futebol.

     No pontapé inicial de minhas razões, uma certeza: vivemos  o desconforto de uma “democradura.”  Apenas para citar um bom exemplo, numa legítima democracia não existem investimentos bilionários sem aprovação do contribuinte. Como as absurdas aplicações em Cuba, verbas graúdas jorradas no bueiro da Venezuela, nas equações cretinas para salvar os devaneios de Cristina Kirchner, o dinheiro público é tratado como se fosse um cartão de crédito particular.

   Poucos duvidam que os estádios da copa foram superfaturados e que o evento foi a cereja no bolo que representa o ego inchado do lulopetismo. Um colossal erro com parâmetros na obtusa ótica dos militares. Assim como fizeram os ditadores, criou-se um regime de exceção para garantir o sorvedouro de recursos. Se o Brasil ganhar a peleja, nada será investigado.

   Apenas a frustração coletiva, tirando do povão a anestesia da vitória, é que permitirá abrir a caixa preta que envolve fraudes, corrupções e inacreditáveis erros cometidos em nome do fanatismo por futebol. Sou mais Brasil. Que venha a derrota. Dessa vez alardeio e vou soltar foguetes sem nenhum trauma. Sei que milhões de cidadãos vão entender o meu gesto. A única diferença é que a maturidade não me permitirá nenhuma alegria em caso de vitória. Estarei exausto e derrotado. Certo de que a seleção ganhou e o país perdeu.

 

Rosenwal Ferreira, jornalista e publicitário

facebook/jornalistarosenwal

twitter: @Rosenwalf

www.rosenwalferreira.com.br

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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