Cultura

Pix sexual: como o sistema começou a ser usado como ‘arma’ de paquera

FOTO: Marcos Muller/Estadão

Quase ninguém mais sabe o que é um piropo. De origem castelhana, um piropo é uma palavra ou frase de elogio endereçado a outra pessoa. No melhor dos mundos, poetas, compositores e apaixonados escrevem versos (piropos) sobre quem se ama. No pior dos mundos, piropos são grosseiros e, ao cruzarem a linha do assédio moral ou sexual, transformam-se em casos de polícia.

Toda essa ‘piropada’ do parágrafo acima é para falar da improvável nova plataforma utilizada para paqueras virtuais. Não, não são as já tradicionais redes sociais ou aplicativos, como Tinder e Inner Circle. Hoje, os piropos invadiram o Pix e criaram o Pix sexual.

Pix, para quem ainda não foi apresentado, é um sistema de pagamento instantâneo lançado em meados de novembro pelo Banco Central. Basicamente, o usuário pode usar o seu número de CPF, telefone ou e-mail como chave (senha) do Pix. As transferências podem ser feitas com qualquer valor (inclusive 1 centavo), sem custos adicionais. Além disso, o usuário pode enviar uma mensagem no comprovante de pagamento. Normalmente, essa mensagem serviria para uma breve descrição dos motivos do pagamento, mas…

Mas o brasileiro na internet tem um humor todo peculiar e não demorou para aparecerem coisas como: “Coloquei uma chave pix aleatória na bio do meu Tinder e tem maluco me mandando dindin pelo meu número kkkkkkk” (@Manda_pedrosa). Ou ainda: “Não me mande flores, me mande um PIX. É assim que se paquera agora?”( @lillydearaujo).

Nas redes sociais, a modalidade já foi apelidada de “pixtinder” e seus adeptos de @pixsexuais (pessoas que se sentem atraídas por quem faz transferências financeiras por Pix). A ideia é que, ao se identificar a pessoa do seu interesse, o indivíduo faça uma transferência bancária acompanhada por um galanteio (um convite para jantar, um elogio).

Ainda nas redes, nasceu uma tabela que relaciona valores financeiros ao nível de interesse da pessoa. Por exemplo, R$ 1 é igual um “adoro você”; R$ 2 vale um “te acho lindo” e um R$ 10 é um legítimo “quero um date”. Já um depósito de R$ 20 pode significar “te odeio, kkk”.

“Eu vi uma reportagem sobre o assunto e pensei: ‘quero se paquerada assim também’”, brincou a assistente social e fotógrafa Liliane de Araújo, 39 anos. “Aí, mandei um Pix para um contatinho, um rolo eterno. Aí, recebi um Pix com uma mensagem e um depósito de 10 centavos. Postei nas redes sociais e me zoaram demais. Brinquei que essa paquera tirou minha conta do zero”, completou.

O economista Vagner Castro, 27 anos, experimentou o “pixtinder” e disse que funcionou. “Cheguei a mandar para um menina com quem estava saindo. Mandei um ‘oi’ com o meu telefone. Ela me chamou no WhatsApp, acho engraçado…”, contou. Mais do que usar o Pix para um flerte, Castro teve a ideia de abrir um perfil no Instagram para reunir histórias e prints desse tipo de abordagem. Trata-se do @pixloveers.

Na página, prints com transferência de R$12 seguido da seguinte mensagem: “Tu vai terminar comigo por causa de um sonho, Ana?”. Ou pedidos de desculpas acompanhado por R$ 5: “Amor, na moral, foi só um beijinho, me desbloqueia”. Além de cantadas, as mensagens podem servir para explicar melhor pedidos feitos por delivery. Ao transferir o pagamento para uma pizzaria, a pessoa escreveu no Pix: “não põe cebola na pizza, obrigado”.

No aplicativo de paquera, Inner Circle, o uso da palavra “Pix” subiu 147% em um período de um mês. “Não temos acesso ao teor das conversas, portanto, não sabemos se as pessoas estão fornecendo os seus dados no aplicativo, mas é possível pesquisar por palavras e, realmente, a palavra ‘Pix’ teve um aumento considerável”, disse Ximena Buteler, gerente de marketing do Inner Circle. “Claro, é importante lembrar que o aplicativo não recomenda que as pessoas forneçam esse tipo de dado pessoal, como CPF, em suas conversas”, completou.

A brincadeira fugiu do controle, ganhou escala e levou o próprio Banco Central a se manifestar, dizendo que o “Pix é um meio de pagamento e não uma rede social”. Camila Mickievicz, especialista em direito e tecnologia, adverte para os perigos do chamado pixtinder. “O risco é acentuado. Entregar a chave do Pix para alguém pode significar disponibilizar o CPF. Com o CPF e o nome completo, alguém mal-intencionado pode fazer compras no seu nome. Se a chave é o telefone ou o e-mail, os problemas podem ser muito sérios também”, comentou.

“A gente precisa explicar para as pessoas a importância de proteção dos dados pessoais nesse ambiente digital. Já estão sendo aplicados golpes pelo Pix. O que começa com uma brincadeira, pode terminar com muito dor de cabeça”, finalizou Camila.

Fonte: Gilberto Amendola, O Estado de S. Paulo

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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