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Pelo umbigo de minha avó

            Quem não é do ramo pode ter ficado surpreso e agastado com o circo que se revelou, ao vivo e a cores, no quiproquó que autorizou a sequência do impeachment da presidente Dilma Rouseff. Os que atuam no segmento, como nós jornalistas, foram dormir tranquilos sabendo que a zorra foi de um desfecho previsível e até com uma normalidade aceitável. Podia ter sido pior – muito pior!

            O leitor deve imaginar que estou de gozação. O que seria mais ingrato do que Jean Wyllys cuspir no colega Bolsonaro? Será possível um vexame mais ordinário do que o sujeito votar invocando as memórias da tia ou do neto recém-nascido? É lógico imaginar algo mais deprimente do que um deputado, como fez o delegado Waldir, indicar o voto simulando um revólver? Pior ainda, para o consumo da imprensa internacional, nobres representantes gritarem aos quatro ventos que o presidente da sessão é um gângster?

            Os momentos, digamos assim, umbilicais, foram de um grotesco que nos remetem à sina de uma republiqueta de bananas. Mas tudo funcionou exatamente como de fato é o Congresso Nacional. Ali, para o bem ou mal, estava o amálgama da sociedade brasileira. Foi um retrato fiel das vísceras do poder.

            Voltando ao que poderia ser mais nefasto, refiro-me a pescoções, cenas de pugilato e sangue jorrando na tribuna.  Os fanfarrões de plantão, vítima dos ânimos exaltados com brasileiros separados por um vergonhoso muro de ferro, podiam ter ido às vias de fato. Para os baixíssimos padrões que vigoram na Casa das Leis, era de se esperar agressões físicas. Felizmente não aconteceram. Foi um milagre.

            É claro que recebemos críticas da imprensa internacional e de interlocutores que deviam meter o bedelho no que lhes pertence. Alguns atores do cone sul, sobretudo os que possuem um viés da esquerda raivosa que usufruíram das benesses – à custa do povo brasileiro, destaca-se – do lulopetismo, criticaram o resultado fazendo coro ao tal “golpe”. Bobagem! Não compete a eles julgar uma corte soberana, por pior que seja o caráter dos participantes.

            Alguns jornais da terra do Tio Sam torceram o nariz mostrando a incoerência de um presidente corrupto, Eduardo Cunha, conduzir o processo. Agiram como se os Estados Unidos fosse um oásis de ética e caráter na esfera política. Menos, bem menos! Até os mais bobinhos acompanham atiçar o rabo de Donald Trump, com sua riqueza questionável, e as muitas asnices do confuso sistema para se tornar candidato estilo USA.

            Eles não são diferentes, apenas mais contidos e dissimulados. Não possuem o sangue caliente ou a ginga do carnaval. Diferem no estilo, mas empatam no conteúdo. Ou será que ninguém sabe como Bush surrupiou a eleição na mão grande? Portanto, nada de querer nos dar lição de moral ou fazer juízo de valor com parâmetros errados.

            Correspondentes europeus, de nações como França, Itália e Inglaterra, tentaram uma de bacana menosprezando o aparato em terras brasileiras. Hipocrisia de quem se acha no direito de nos classificar como uma espécie de cachorro vira-lata internacional. Aqui, como acolá, vicejam políticos adeptos de politiquice e brotam incongruências lamentáveis.

            Os erros, e acertos, são de nossa lavra e nos dizem respeito. É fato que seria preferível uma participação fidalga, uma decisão limpa e cristalina, com políticos votando na sensatez, no equilíbrio e no rigoroso respeito ético. Mas fosse assim, estaríamos na Suíça. Estamos no Brasil! Se o desejo for o de mudar o que vimos e nos envergonha, a base está no povo. Muito bem representado nos atores que se fizeram presentes no palco. Aposto que cada eleitor se sentiu ora vingado, ora decepcionado ou agradecido, com os votos que brotaram no domingo. Houve sim, legítima representação. Cada votante atendeu os anseios de seu eleitorado. Foi ou não foi?

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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