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Os Caçadores de Monstrinhos

Apenas os ingênuos, e mal informados, acreditam que os Jogos Olímpicos, ou o impeachment da Dilma, representam o que existe de mais importante no mês dos advogados, cachorros loucos e ventania. Antenados com a sintonia high tech sabem que agosto é importante na abertura da caça aos Pokémons. Essa atividade está revirando as cidades, agitando famílias, causando mortes, acidentes e ninguém sabe a que ponto chegará o frenesi.

Até poucos dias, que vergonha, eu não tinha a menor ideia do que seria um Pokémon. Menos ainda podia imaginar o quanto se torna crucial capturar um desses monstrinhos selvagens, ao que consta, através de uma esfera chamada Pokébola, de uma forma que ele não escape e possa ser propriedade do treinador.

Adultos de boa aparência, jovens suados, crianças aflitas estão à caça em lugares antes nunca navegados. É necessário ter muita destreza no uso do celular, essa engenhoca que todos possuem, senso aguçado de observação e nervos de aço. Os bichos eletrônicos são espertos, arredios e se escondem em qualquer mocó da cidade. O que fazem eles de mal para serem caçados e capturados à exaustão? Parece que nada. Nasceram com a maldição de ser bicho digno de sequestro para servir senhores feudais da era cibernética.

Soube, de fontes confiáveis, entre experientes detetives que perseguem as besta feras modernas, que eles são capazes de evoluir, se agrupar e atacar adversários com uma ferocidade inimaginável. Será? Pode ser. Tudo é possível no reino da imaginação.

A que serve enjaular os capetinhas? Se ganha o que? Para a maioria das pessoas, nada. Nadinha. Não são comestíveis, sequer servem para boa barganha, ninguém paga nada por uma legião de prisioneiros ou existe troca para encher o bolso de dinheiro. Grosso modo, é uma questão de honra, de moral virtual, que implica em glórias que um sujeito medíocre, como eu, não consegue entender.

Certo de que os cretinos são minoria no reino dos celulares, o sujeito que inventou a trama se ergue famoso e milionário, apostando no fabuloso QI entre os que se dedicam atualmente ao safari do Pokémon.

Os bobões atrasados – me coro de vergonha – não vão capturar nenhum Pokémon. Terão que se esconder de vergonha ou, pior ainda, na base da inveja incurável, se agastar em dor de cotovelo jogando praga em quem consegue sucesso, glória e um exército de Pokémons capturado.

Quem tem espírito prático vai perguntar se a atividade paga conta de luz, compra leite para as criancinhas ou traz algum efeito cultural benéfico. Infelizmente não. Mas essas indagações chegam a ser um acinte, uma espécie de besteirol inútil, frente ao prazer orgástico na captura dos exóticos animais cibernéticos.

A atividade, que exige horas de esforço e dedicação, vai além das mentes que se atolam na mediocridade da vida real. É um regalo que só Einstein poderia entender. Se você é desses, como eu, que não chega a entender direito os mimos e prazeres envolvidos na caçada, finja de morto. Pode mentir. Alegue exaustão e alardeie que já capturou milhares de Pokémons. Vai salvar sua reputação e impedir a humilhação da família. Afinal de contas, em tempos bicudos de inflação galopante, juros altos, corrupção política, crimes a granel, poluição sonora e visual, mais vale um Pokémon na mão do que muitos voando. Falar nisso, eles voam? Acho que sim. Vou pesquisar…

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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