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O que me envergonha de ser goiano

     Antes que os arautos do mau juízo possam arrotar conclusões apressadas, tenho firmes raízes em solo do cerrado. Não pretendo deixar minha terra natal e vou continuar criando meus filhos sob o luar de Goiás. Mas existem aspectos deprimentes relacionados com nosso Estado que me fazem corar de vergonha. Entristece-me, num misto de desalento e ignomínia, que em poucas décadas destruímos praticamente todos os nossos rios, ribeirões e córregos piscosos. O cidadão que deseja ir a um bom rio com sua vara e anzol, tem que recorrer aos pesque-pague ou percorrer milhares de quilômetros para fisgar algo em outros rincões do País. É um vexame constatar que destruímos, de forma criminosa e sistemática, a riquíssima ecologia do cerrado.

     É humilhante recordar que vendemos o colosso de Cachoeira Dourada, erguida com o suor de nossos pais e avós, na bacia das almas e a verba entrou no ralo das inutilidades. Desonra-nos admitir que mantemos o pior aeroporto do País, que muitas de nossas estradas ainda representam um salseiro de buracos  e prejuízos e que somos incapazes de tocar obras públicas de relevância sem o manto da desconfiança, da coisa mal ajambrada.

    É vexatório que uma capital planejada, que tinha tudo para evitar erros, tenha sido fatiada entre grupelhos inescrupulosos. Hoje, não existe um bairro sequer que possa ser considerado como estritamente familiar. O caos no transito se assemelha a capitais que floresceram na zorra difusa. Que vantagens temos atualmente na origem de uma criação estruturada? Nenhuma. Grupos de vereadores desonestos, alinhados em gestões com visão no voto fácil, permitiram a implantação desta balbúrdia. 

     Poucas décadas atrás, não havia o sentimento de insegurança que paira sobre as famílias como um facão em mãos desnorteadas. Os índices de criminalidade locais são crescentes e assustadores. Roubos, estupros e assassinatos ocorrem à luz do dia em setores nobres como Sul, Bueno, Oeste e Marista. É uma aflição aceitar que pais de família do eixo Rio São Paulo, que vieram para nossas paragens em busca de uma tranquilidade perdida, retornam às suas origens com receio da violência. Chegamos ao ponto de evitar a aquisição de um veículo de preferência para esquivar-se do assalto.    

     É indecoroso, indigno até os ossos, ter que conviver – governo após governo – com uma região batizada de “robauto” e que se presta exatamente a incentivar a prática do apelido. É deprimente  que o noticiário nacional nos enxergue como um Estado bandido. Exatamente nos moldes que tanto criticávamos no submundo do Rio de Janeiro. Assombra-nos que o universo das drogas esteja engolindo quadriláteros das cidades sem que a polícia tenha condições de agir.  
     Eu tenho vergonha, muita vergonha, que parte da população jogue lixo nas ruas, tenha a insensatez de entupir esgotos com imundices, não limpe os lotes baldios que lhes pertence e que cena de motoristas limpando a sujeira dos veículos nas calçadas ainda seja algo comum. Causa-me asco que prédios públicos sejam vitimas de pichadores e que ainda mantemos hábitos brucutus de tacar fogo nas matas.     
Não me conformo com o incremento da poluição visual que desfigurou as cidades. A poluição sonora, com os tarados do mau gosto e suas boates sobre rodas, é um desrespeito absurdo que  ainda encontra defensores. É tão desgastante que já provocou inúmeras mortes. É maligno conformar-se que empresas poluidoras do ambiente sejam multadas, diversas vezes, e continuam operando normalmente.
    Vale destacar o festival de construções inadequadas, sob a égide da fraude, que erguem arranha céus no arrimo de propinas inconfessáveis. E, ainda, que proliferem postos de gasolina entregando produto adulterado.  Mesmo assim, afirmam os especialistas que estamos num patamar superior. As estatísticas comprovam que do lado de cá a grama é mais verde. Mas isso justifica conformar-se e não falar dos podres que precisam ser corrigidos? È mais produtivo esconder verdades que doem e apenas louvar o que existe de melhor na terrinha? Não acredito. Foi no trono do conformismo que perdemos boa parte da qualidade de vida.    

 Rosenwal Ferreira @RosenwalF

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

1 Comentário

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  • Excelente artigo, sinto-me profundamente decepcionado com nossa capital, com nosso estado. As pessoas perderam o senso de coletividade, o respeito, a educação, o bom senso, mas isso é algo comum também em outros lugares, tá geral, acho até que perdi a fé no ser humano.