Muito embora uma penca de defensores de Marx, sobretudo pseudo- intelectuais que leram apenas o verniz do que ele escreveu ainda percam tempo atribuindo ao filósofo a comparação da religião com o ópio, o epíteto não é original dele. Já tinha aparecido, por exemplo, em escritos de Immanuel Kant, Herder, Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Moses Hess e Heinrich Heine. Mas em todo caso, faça-se justiça, foi a besta que acionou o apocalipse do comunismo que tornou a frase célebre e conhecida.
Apenas em parte eu concordo com o argumento. Em certos aspectos a religião entorpece a razão, inebria os pensamentos, cultua o fanatismo e incentiva a ignorância. Em outros, dignifica valores espirituais importantes, oferece suporte nos momentos de aflição e serve como freio moral imprescindível. Como se trata de um tópico de elevada octanagem pessoal, deve circunscrever-se a decisões íntimas de cada pessoa ou família.
O Brasil acerta ao se declarar uma nação laica. Esta salvaguarda constitucional evita problemas para mais de metro e meio. Pena que proliferam os espertalhões de ocasião que, na base da hipocrisia, confundem fé com religião e procuram tirar proveito levando suas ovelhas a pastarem ervas não indicadas para o consumo.
Neste momento em que Deus e todo mundo ( desculpem-me, trata-se apenas de uma expressão, não creio que o todo poderoso esteja incomodado com essa mixórdia dos homens) discute o impeachment da presidente Dilma, um grupelho de desonestos surge rasgando para botar a religião no meio.
Explica-se: nesta segunda-feira, jornais de todo o País estamparam a seguinte manchete: “Católicos e Evangélicos são contra o impeachment”. Não acredito na informação. Ela certamente é falsa até os ossos. Não me parece plausível, embora seja algo possível, que líderes dessas correntes religiosas tenham realizado uma pesquisa entre os fiéis para avalizar uma posição a favor ou contra a saída da Presidente Dilma Rousseff.
O que se pode deduzir, com excelente margem de acerto, é que algumas lideranças, consultando seus próprios umbigos, e quando muito o de alguns aduladores próximos, decidiu que o melhor negócio é ser contra o impeachment. A partir dessa posição falam em nome de todos, mesmo dos que não rezam nessa cartilha. É um engodo que os homens de fé são obrigados a engolir a seco.
Destaca-se que o termo “melhor negócio”, não foi utilizado por acaso. Normalmente os que provocam a miscigenação entre religião e política, são mercadores do templo, merecedores de boas chibatadas de Jesus. Suas orientações capazes de influir em decisões mundanas, particularmente na putaria da politiquice, acontecem sob o guarda-chuva do deus dinheiro.
A convicção dos falsos profetas é tão volátil que se amanhã o vento dos poderosos soprarem em outra direção, eles estarão prontos a mudar de rumo como se fossem birutas ao sabor do vento. O que lhes interessa é participar do convescote dos poderosos, pouco se lixando que o povão fique com as migalhas. Religião, particularmente na essência que agrega fé e caridade, não é uma droga.
Desprezíveis são os homens que sequestram o segmento, para fins impróprios. Vendedores de ilusões na terra, confiam a alma para belzebu.
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