Se o leitor dessa coluna tiver alguns anos de praia, deve compartilhar comigo um tremendo cansaço. Na verdade, um esgotamento que corrói os ossos, azeda o humor e tira o sono. Não estou me referindo ao ato de trabalhar, suar a camisa nas atividades cotidianas, lidar com dificuldades na labuta de criar os filhos ou se equilibrar nos relacionamentos humanos. O que me consome é a eterna mesmice da classe política.
Muito embora todos sejam oriundos do caldeirão multicultural em que ferve a sopa brasileira, fica a impressão que vieram de outro planeta e se infiltraram na sociedade. Ano após ano, não importa o partido que se ajusta no poder, as ações ordinárias, o processo que se afunda no esgoto de conchavos impublicáveis, continua inalterado.
O País mudou, a sociedade se tornou cosmopolita, fomos inseridos no contexto da era digital, os eleitores estão mais informados, cresceu o percentual de brasileiros em cursos universitários, muitos falam até três idiomas e a tecnologia é uma realidade. Tudo evoluiu, menos a classe política.
Os donos do País, uma casta privilegiada com salários acima da média nacional, com benefícios que nenhum profissional possui e que trabalham em ritmo de tartaruga, continuam a agir em moldes do crime organizado. Apesar de que alguns foram julgados e amargaram meses atrás das grades, nada mudou.
Note-se que o Presidente da República, Governadores e Prefeitos – sem nenhuma exceção conhecida – continuam sendo reféns de um rol de demandas que travam o progresso da nação. Nas engrenagens do Governo Federal, é necessário lotear ministérios, no regime batizado como porteira fechada, entregando cargos importantes a quem não tem condições de administrar um carrinho de pipocas para manter um mínimo de governabilidade.
E o que fazem essas toupeiras indicadas pelos partidos que fatiam a nação? Simplesmente se dedicam ao antigo jogo de nomear afilhados, realizar falcatruas e tirar proveito político. É simples assim. Até o mais ingênuo dos brasileiros sabe como a malandragem funciona.
O modelo, perverso com o contribuinte pela certeza de inoperância, se repete na esfera estadual e municipal. E não interessa mudar. Mesmo que a nação se atole, eternamente, no esgoto das inutilidades, a turma do contra mantém o carrossel do absurdo.
Eu tinha esperança, que já perdi frente a realidade, de que mudanças poderiam ser realizadas através do voto. Na prática não tem funcionado. Até os parlamentares de última fornada, teoricamente sangue novo capaz de ações diferentes, se deixam corromper numa rapidez fulminante. Cansei mesmo.
Isso significa o quê? Uma proposta para chutar o balde, partir para ignorância e mudar a baderna na base da violência? Nada disso. Também não acredito na força bruta como forma de alterar o que não está certo. Apenas relato que perdi a vontade de lutar. Triste reconhecer que faço parte de uma geração que jogou a toalha. Esse é o maior perigo.
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