Embora o eco das manifestações contra o governo Dilma tenha repercutido em cidades que não tinham se rebelado nas águas de março, os deuses do planalto respiraram aliviados. O rugido das ruas foi calibrado com decibéis reduzidos no comparativo com a garra que fez tremer o lulopetismo entrincheirado no poder. Mas se os chifres do diabo não foram tão expressivos, pesquisas recentes indicam que o bafo do inferno sopra como nunca.
Segundo o confiável instituto Datafolha, 63% dos pesquisados apoiam o impeachment da presidente. Mesmo que essa possibilidade, à luz da legislação, seja uma tese remota e improvável, o percentual serve para medir o azedume da população. Trocando em miúdos, mesmo que a galera nada entenda das firulas da legalidade, esse significativo contingente de eleitores deseja ver Dilma longe do poder.
Incomoda bastante, sobretudo a Lula que depende do sucesso de sua pupila para voltar às rédeas do poder, o fato de que 60% dos eleitores consideram o governo ruim ou péssimo. O mesmo levantamento evidencia que 83% dos brasileiros acreditam que Dilma sabia da roubalheira na Petrobras e nada fez para evitar. Pior ainda é a constatação de que a popularidade, e aceitação, de Lula, foram corroídas em níveis que sequer a oposição poderia sonhar.
Com esse quadro, o alívio no agudo impulso das avenidas, não chega a oferecer um sono tranquilo. O PT está à procura não de consolo passageiro, mas de uma estratégia capaz de tirar o partido da UTI. Não é bolinho que se degusta no chá das cinco, ter um nome atrelado inicialmente a princípios de ética, lisura e consciência política, para depois ser avalizado como símbolo de corrupção e bandalheira.
Algumas táticas, como afirmar que o movimento de insatisfação é uma gastura da classe média, como se esse segmento não tivesse o direito de reclamar, não surtem efeito em médio prazo. Os dirigentes sabem, porque ninguém é tão neófito assim em história recente, que foi esse conjunto de trabalhadores, que enfrentou o regime militar exigindo as eleições diretas, e foram justamente eles que se pintaram de verde e amarelo enxotando Fernando Collor do poder.
Portanto, classificar os descontentes de “coxinhas”, dizer que o “panelaço” está restrito a uma elite paulista das varandas, serve apenas para injetar ânimo na militância. De resto, apenas uma recuperação consistente e rápida da economia, que parece algo cada vez mais remoto, poderá colocar o governo em situação confortável.
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