Desde que o PT assumiu o poder, esmagando a oposição com rara habilidade, o PSDB nunca teve uma chance tão promissora para dar o troco ao seu principal adversário político. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, demonizado pelo lulopetismo como pai de todas as mazelas brasileiras, está sendo paparicado como se fosse uma tábua capaz de salvar náufragos em agonia. Se ontem suas ações e palavras não tinham o menor valor, hoje, qualquer elogio ao governo se transfigura em registro bíblico que não se questiona. Coisas da política? Ou da politiquice?
Nesse contexto, e principalmente considerando que as forças no poder fizeram de tudo para rasgar uma divisão nacional entre o “nós” (com a turma do bem) e “eles” (a turma do mal), é de se entender porque a sociedade, que não aprova os métodos do PT, se regozija com a atual aflição do partido. Esse contingente de eleitores, que votou num bloco de protesto muito claro no PSDB, não aceita que os petistas sejam resgatados do circo em chamas. Faz sentido.
O País está numa crise de governabilidade que beira o caos, a inflação corrói o poder aquisitivo da população, o dólar e os juros estão nas alturas e a estagnação econômica é uma tragédia anunciada. A presidente Dilma Rousseff, ícone máximo da inoperância sentada no trono do poder, viu sua popularidade despencar a patamares que deixam sua imagem na UTI.
Eis que neste cenário sombrio surge o Governador Marconi Perillo, conhecido desafeto de Lula e Cia Ltda, como uma voz de equilíbrio se manifestando contra o impeachment de Dilma, defendendo sua permanência no governo como um clarão que ilumina a escuridão num interminável túnel. Para muitos não faz sentido. Eis o dilema.
Para entender a estratégia de Marconi nesse intrigado xadrez político é necessário ir além das análises superficiais. Se de um lado faz senso deixar o oponente sucumbir ao abismo de suas próprias inconsequências, de outro é necessário se render ao pragmatismo de raízes profundas. Ao optar por um alinhamento a favor da Presidente, o governador mergulha num lago de risco calculado.
Se o gesto é capaz de agastar boa parte de seus fiéis eleitores, as ações práticas da empreitada geram dividendos que não se pode dispensar em tempos de vacas que se arrastam na magreza de recursos. Ciente de que o contribuinte é mais propenso a esquecer de firulas ideológicas do que agruras que pesam no bolso, o chefe dos goianos adula quem pode oferecer oxigênio extra aos cofres do Estado. É simples assim.
Numa análise fria, é de se entender que o gesto acaba sendo de interesse da coletividade. Não importa se Marconi está preocupado, também e principalmente, em salvar sua pele procurando lugar seguro em meio a uma tempestade que mal começou. O maior problema, que transforma a empreitada numa armadilha, está em saber dosar a proporção de afagos a serem dispensados a uma autoridade que se afunda. Como é de conhecimento dos salva-vidas experientes, abraço de afogado é um Deus nos acuda.
Se o governo Dilma sucumbir a uma solução estilo Fernando Collor, ação que não está descartada na bolsa de apostas, a tática de Perillo pode ser danosa ao seu futuro político, visto que nada adianta ter uma aliada às avessas fora do poder. Não importa o cenário, ele teria que começar tudo de novo e ainda amargar o ônus de ter bajulado quem perdeu o apoio popular.
No frigir dos ovos desse peculiar omelete, fica a pitoresca realidade que Goiás, em meio a uma crise que não terá soluções em curto prazo, tem mais a ganhar com Dilma – portanto com o PT – fragilizada no Governo do que outra solução a ser ajuizada na turbulência de uma ruptura qualquer. São coisas da política. Para aceitar, e entender, é preciso estômago.
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