Saúde

Notícias recentes da Coronavac mostram ação contra casos graves, sem bloqueio total da transmissão

Na época em que o Instituto Butantan terminou o estudo de Fase 3 da Coronavac, como se recorda, uma das razões para o atraso na divulgação dos dados foi a existência de um estudo semelhante feito na Turquia. Enquanto o estudo brasileiro indicava uma eficácia de ~50% contra o aparecimento de casos sintomáticos de covid-19, o estudo turco obteve uma eficácia de ~85%. Depois disso, a comunidade científica espera a revisão por pares e a publicação definitiva dos resultados desses dois estudos para entender o motivo da discrepância e a real eficácia da Coronavac.

 

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Doses da Coronavac são inspecionadas na sede do Instituto Butantan, em São Paulo Foto: REUTERS/Amanda Perobelli 12-01-2021

Até o momento o estudo coordenado pelo Butantan ainda não passou pela revisão de pares e não foi publicado em sua forma definitiva. Mas nesta sexta-feira, 9, foi publicado na revista The Lancet a versão revisada e definitiva do estudo turco, acompanhado de um editorial elogiando-o por fornecer dados sólidos sobre a eficácia da Coronavac. Dado seu pequeno tamanho (11.303 voluntários, divididos entre o grupo controle e o vacinado), o estudo somente foi capaz de avaliar a eficácia contra o aparecimento de casos sintomáticos detectados por exames PCR. E a eficácia ficou em 83,2% (intervalo de confiança entre 65,4 e 92,1%). Não foi possível calcular a eficácia da vacina em prevenir internações ou mortes.

A eficácia medida nesse estudo é maior que a divulgada pelo Butantan, e que está sob avaliação dos pares desde 14 de abril. Essa é uma boa notícia para quem foi vacinado com a Coronavac, pois é o primeiro estudo da eficácia dessa vacina publicado em uma revista científica. Mas é importante lembrar que o estudo foi feito entre 14 de setembro de 2020 e 5 de janeiro de 2021, quando muito provavelmente somente a cepa original do coronavírus circulava na Turquia. Frente a novas variantes, esse número deve ser menor.

Outra boa notícia é o estudo que foi publicado no The New England Journal of Medicine, descrevendo os dados obtidos no Chile após a vacinação com a Coronavac. São dados obtidos em condições reais de vacinação, entre os dias 2 de fevereiro e 1.º de maio de 2021, quando provavelmente a cepa presente no Chile era a original. Nesse estudo foi envolvido um número muito grande de voluntários (10,2 milhões de pessoas, divididos em três grupos: os não vacinados, os vacinados com uma dose e os vacinados com as duas doses). O estudo mostrou que a efetividade da Coronavac em prevenir casos de covid com sintomas foi de 65,9%. A vacina também preveniu 87,5% das hospitalizações, 90,3% das internações em UTis e 86,3% das mortes. Os intervalos de confiança dessas medidas são pequenos, por causa do enorme número de voluntários estudados.

Esses resultados são os primeiros de efetividade da Coronavac e demonstram que ela impede grande parte dos casos graves e de mortes. Por outro lado, a baixa efetividade contra casos mais leves (65,9%) talvez explique por que no Chile o número total de casos por milhão de habitantes continua alto. A interpretação mais simples é que a Coronavac impede o surgimento de casos graves, mas não bloqueia completamente a transmissão do vírus.

Os primeiros dados sobre a Coronavac estão aparecendo nas revistas científicas. Confirmam que a vacina funciona, é muito útil em prevenir casos graves, mas é menos efetiva em inibir o espalhamento do vírus. Infelizmente a efetividade contra novas variantes ainda é desconhecida e os poucos dados divulgados não foram publicados em revistas científicas. Hoje a cepa original praticamente não existe mais, tendo sido substituída pelas novas variantes, sendo a mais preocupante a delta. Nas próximas semanas vamos saber o estrago que ela vai fazer no Brasil, onde poucos receberam as duas doses da vacina.

ESTADÃO

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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