O ex-deputado Mauro Rubem é um poço de contradições. No trato pessoal é um homem refinado, mantém um diálogo positivo agradável e defende suas posições com argumentos intelectuais equilibrados. Todas as vezes que tive oportunidade de conversar com ele, muito embora não concorde com suas teses marxistas, percebi uma saudável disposição para discussões produtivas.
Mas basta a conexão dos holofotes para que ele libere o assombro de um faceto lobisomem. Seja por excesso de astúcia – segundo Tancredo Neves, “Esperteza, quando é muita, engole o dono” – ou por menosprezar a inteligência alheia, ele encarna personalidades distintas dependendo da ocasião. Pega mal.
Para o consumo dos ingênuos, que ainda acreditam na falácia do comunismo, se ergue como um valente, bravo guerreiro que não se verga aos adversários adjetivados como burgueses. Na prática, se enrosca em trapalhadas capazes de levá-lo a beijar a lona em desnecessária humilhação pública. Recentemente, foi obrigado a pedir desculpas ao governador Marconi Perillo e pagar uma multa de 10 mil reais. Agiu como menino levado que fala demais e não tem como provar o que disse.
Ao ser derrotado nas eleições, ficando sem mandato parlamentar, muitos acreditavam que fosse exercer a profissão de odontólogo. Que nada. Ao que tudo indica, cavou um cargo na CUT e continuou a fazer o que mais gosta: alimentar convulsões sociais capazes de atazanar os adversários políticos. Trabalhar duro fica para os colegas de profissão.
Talvez porque raramente tenha sentado os fundilhos numa cadeira para atender pacientes, se atreve a ofender não só odontólogos, como diversos profissionais qualificados. Mauro Rubem, ao contrário de íntegros companheiros do PT que não aprovam a roubalheira e encaram com humildade as reclamações do povo, arrasta a cauda da arrogância desdenhando as manifestações como uma reunião de “carnacoxinhas”.
Ora, meu digno Mauro Rubem, vários odontólogos, que atuam em dificuldade pagando a mais alta carga tributária do planeta, compareceram ao protesto. Ao contrário do senhor, que não precisa se agastar no reino das resinas, obturações e etc, esses colegas merecem respeito. Estão amargando um sufoco dos diabos. Por que Vossa Excelência tem que adjetivar, negativamente, quem protesta de forma pacífica?
Não vejo razões para prepotência capaz de rotular milhares de famílias, menosprezando suas angústias econômicas. Foi por essas e outras que o senhor não obteve êxito na eleição para Deputado Federal. Pergunte aos amigos odontólogos o quanto a crise está afetando o faturamento. Indague e vai descobrir que ninguém merece ser chamado de coxinha ou mauricinho. Respeite quem não pensa como o senhor. Quem trabalha arduamente faz jus a consideração.
Se tivesse ido às ruas, com o honesto propósito de entender o cerne das reclamações, teria percebido muito claramente que os trabalhadores não agiram por razões ideológicas. Muitos dos que engrossaram a passeata votaram em Dilma e acreditaram no PT. Esteja certo que nos incomoda apenas as altíssimas tarifas de luz, o aumento brutal na gasolina, a corrupção generalizada e as mentiras de campanha. De resto, podemos curtir coxinhas ou mandiocas, não importa, queremos seriedade. Só isso, Mauro Rubem.
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