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Lula, Maluf, feijoada e cinismo.

        Mesmo sendo um dos pratos que simbolizam a culinária brasileira, a feijoada não é uma iguaria com a qual se apaixona à primeira vista. Agrada pouco quando se enxerga a fusão de rabo, pé e outros nacos de carne de porco que boiam na gordura com o feijão preto. E para quem não está habituado com a combinação de farinha, arroz branco, pimenta, torresmo, mandioca frita e caipirinha, pode incrementar uma indigestão dos diabos. Sendo de bom tempero, o cidadão se delicia com a união ultra calórica e se torna um adepto que mal pode esperar o sábado, tradicional dia para servir a receita com origem nas senzalas.
        Muito a propósito, foi essa iguaria que Maluf escolheu para selar o apoio do PP ao PT de Lula, injetando alguns minutos de TV à campanha de Haddad em busca da prefeitura de São Paulo. O Deputado Federal exigiu, além de cargos e benesses com pagamento futuro, que Lula fosse lhe oferecer afagos nos jardins de sua residência. Político de boa memória, o representante do Partido Progressista se lembra claramente o que disse o ex-presidente sobre ele em 1984: “O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser Presidente. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente.”
       Foi lindo ver Lula se ajoelhar em sorrisos cínicos, mimos delicados e elogios com registro fotográfico jurando amor eterno. Sequer pestanejou em abraçar o homem que em 1993 sapecou o seguinte: “Ave de rapina é o Lula, que não trabalha há 15 anos e não explica como vive.” Quem se azedou com a parceria foram apenas saudosos gatos pingados.
     Os dois protagonistas dessa ópera de malandros da politiquice estão às gargalhadas. Eles nunca foram diferentes. Apenas estiveram em lados opostos por mera questão do destino. Tanto Maluf quanto Lula procuram conquistar e manter o poder à qualquer custo. Que se danem os escrúpulos e as rixas de antigamente. Os fins justificam os meios. O que importa no momento é que Haddad obtenha as chaves que controlam os cofres da maior arrecadação municipal do País.
       Os defensores do “lulismo” debochativo vão dizer, com razão, que a união de temperos que pareciam tão diferentes, é algo natural na politiquice brasileira. Outras agremiações flertaram abertamente com Maluf. Lula foi apenas o que ofereceu o dote mais polpudo. É verdade. A indigestão nessa confraria se enrasca no saudosismo do PT como partido sério. Ingenuamente, muitos acreditavam que o PT iria modificar o jeitão corrupto de administrar a nação brasileira.
   Traindo esse voto de confiança, o PT não só lambuzou-se no mel das falcatruas, protagonizando com o mensalão um dos mais sórdidos destemperos da era democrática, como se aliou aos mais repugnantes ícones da corrupção brasileira. Junto com Sarney, Renan Calheiros e outros, Maluf é a cereja do bolo. O homem até emplacou o verbo “malufar” no cenário da língua portuguesa. Hoje, em São Paulo, comprova que entre o novo e o velho político, nada mudou.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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