Somente Lula, que calou a UNE com a algibeira do contribuinte, transformou as centrais sindicais em garçons do poder, utiliza o Congresso nacional como desodorante, o Itamarati como perfumaria, nega o mensalão, recebe o presidente do Irã que não reconhece o Holocausto e que mantém cacife para tal empreitada. Poucos são os que enxergam os perigos na marcha da insensatez. Estima do eleitor e aprovações a granel não são motivos que justificam rompimento com o juízo ético. No governo de Marconi Perillo, com o atual senador na apoteose do sucesso, chaleiristas estilo baba-ovo sugeriram um longa-metragem narrando sua carreira. Assim como Luiz Inácio e milhões de brasileiros, entre os quais eu me incluo, a vida de Perillo mantém ingredientes para uma película.
História de quem nasceu pobre, ralou, sofreu e obteve sucesso existem aos borbotões. Mal a ideia vazou nas futricas palacianas e o pau comeu solto. Na época critiquei duro porque saquei o óbvio: o documentário teria que ser patrocinado por interesseiros de ocasião. O bom senso e a certeza de que seria um Deus nos acuda fizeram o governador cortar a iniciativa pela raiz.
O mesmo não aconteceu com Lula. Pelo contrário, confundindo o público com o privado, Inácio montou uma força-tarefa para viabilizar a produção, colocou ministro para dar palpites e está patrocinando a distribuição. Após essa, digamos assim, flexibilidade, o céu é o limite. Os que chiam são invejosos que não participam do café da manhã.
Aos que estudam limites que separam ditadores e democratas, estamos pisando em campo minado. Na terra, o muro que separa o paraíso do inferno é muito baixo. São atitudes que parecem inofensivas que fazem derreter as democracias. O companheiro Hugo Chávez usou programas de TV. Quando os venezuelanos lúcidos perceberam a armadilha, já estavam sem luz e papel higiênico. No Brasil não tem crise. Por enquanto a gente apenas vai ao cinema …
Rosenwal Ferreira é jornalista e publicitário
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