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Goiânia é um samba do crioulo doido

Procurar endereços em Goiânia é arte do sofrimento garantido. Até os que nasceram aqui e presenciaram a cidade se transformar num salseiro, amargam dissabores. A começar que a cidade não tem senso lógico na terminologia dos quadriláteros urbanos. O setor Aeroporto não tem nada a ver com a  aterrissagem de aeronaves. A Vila Nova é o bairro mais antigo da cidade. O setor Mansões é um amontoado de casas irregulares em que poucas recebem tinta no acabamento. O que mais falta no Parque Industrial João Braz são indústrias. E que ninguém tente procurar um vão de trem no Setor Norte Ferroviário.

Como se não bastasse o Setor Progresso se afunda no atraso com ruas esburacadas e falta de sinalização nas residências e o Balneário Meia Ponte não tem nenhuma estrutura que justifique esse nome. No Setor Nova Suiça, não há nada que lembre um País tão organizado. No bairro Feliz as pessoas estão de cara amarradas com a onda de assaltos e  problemas que se acumulam. Pobre do estrangeiro que tentar achar lógica na Mas esse não é o pior aspecto. O agastamento é mais profundo do que bairros que perderam o senso em seus batismos de origem. Cretinos de ocasião, incluindo legisladores que teor umbilical, descaracterizaram ainda mais a cidade. A Praça do Cruzeiro, conhecida por este nome, na verdade, chama-se Germano Roriz. Quem foi não sei e não me interessa saber.

Tem a Praça do Ratinho, Praça do Racha e outros logradouros conhecidos, em que se teima em dar nomes que não pegam.  A pior confusão mesmo fica com as ruas numeradas. Até parece que foi uma lambança premeditada. Nada faz sentido. A sequência de números beira a bizarrice. O Setor Bueno é uma dor de cabeça até para carteiros veteranos. Se alguém procura senso, por exemplo, achar que depois da rua sete vem a oito ou nove, vai quebrar a cara porque pula para o número sessenta ou coisa pior. A capital, que foi planejada, não tem lógica alguma. Existem até ironias de arrepiar os cabelos. Segundo consta, o Shopping Passeio das Águas terminou por destruir dezenas de minas cristalinas eliminando as últimas reservas de água da região. Para erguer o Bougainville, dizem que cortaram várias árvores que deram nome ao local. Zombarias da cidade.

Só para lembrar, que ninguém procure um único potrinho no Jóquei Clube ou tente encontrar inovações na região do Novo Mundo. Na base do exagero, dizem que é difícil achar pessoas estudando no Setor Universitário, os alunos gostam mesmo é do circuito do Marista nos seus múltiplos barzinhos e restaurantes. Ninguém tira leite no Parque Vaca Brava e o rebanho daquelas bandas é de uma natureza mansa. O que restou do Lago das Rosas pode ser descrito como poça de água gigante. Em todo caso, esta é a cidade em que se ama, se vive e se delicia nas amizades. É na incoerência do asfalto que a gente acha encantos que lembram os bons momentos do interior de Goiás. Fazer senso nos logradouros, ruas e avenidas não é o nosso forte, pois a maior energia por essas bandas é nossa gente maravilhosa, que não se furta em ajudar a encontrar um endereço confuso.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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