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Foi lavando que sujou tudo

     Numa atitude inédita aos padrões afrolusotupiniquins de fazer política, os candidatos ao trono da prefeitura entraram num acordo e pediram para diminuir o tempo de campanha no segundo turno. Quem deduziu que essa “generosidade” tem origens na operação Lava Jato, acertou no bingo. A coragem do juiz Sérgio Moro, com o apoio de uma inacreditável força-tarefa da Polícia Federal encastelada na batizada República de Curitiba, mudou os padrões de se fazer campanha em terras brasileiras.

     A equação é simples de ser entendida: como gastar dinheiro dos outros é a arte de degustar bolinho no chá das cinco, sempre foi muito fácil contratar marqueteiros a peso de ouro. Os especialistas no assunto cobravam milhões de reais, retirados posteriormente do cofre da viúva, sufocando verbas de fazer inveja às nações mais ricas do planeta.

     O modelo brasileiro, corrupto até os ossos e com participação de empreiteiras desonestas, foi até exportado, comprometendo campanhas mundo afora. Até o surgimento da Lava Jato, tudo parecia perfeito. Funcionou tão bem que exageraram na dose. Quando a roupa suja começou a ser lavada em público, com ampla cobertura da imprensa, angariando sólido apoio popular, sujou geral.

     A dinheirama que podia ser colhida a rodo deixou de jorrar nas torneiras. Os partidos, assim como os caciques que controlam a tribo da corrupção, tiveram que reavaliar as finanças. Ficou bem mais difícil gastar como se não houvesse amanhã. Como diria Carlos Drummond de Andrade… E agora, José?

     A festa acabou, a luz apagou, o povo, que recebia gordos cachês, sumiu. Muita gente boa ficou sem mulher, ficou sem discurso. O bonde não veio, o riso não veio, existem contas a pagar e mesmo os que têm a chave na mão querem abrir a porta e não existe porta. O mar secou. Quer ir para Minas? Minas não há mais. E agora, José?

     Não adianta gritar, não resolve gemer, sequer tocar uma valsa vienense desata  o nó ou desencanta o  problema. Mas tal como o José do poema, a turma é dura. Não morre. Adapta-se. O jeito é apertar o cinto, reduzir tempo na TV e fazer acertos de menor valor com os papas da área.

     Faturas com acerto futuro, e que podem dar cadeia, se transformaram em campo minado. Pisar na bola, ou construir estádios que garantem propinas milionárias, deixou de ser um bom negócio. Reduzir custos é a ordem do dia. Mesmo que isso implique em abrir mão de preciosos minutos na TV, mercadoria que, paradoxalmente, se negocia sem escrúpulos no primeiro turno.

Quem sabe isso pode ser corrigido surgindo  outro Sérgio Moro? Pode ser. Torcida é o que não falta.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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