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Estou vendendo um peixe morto

Esta semana figuras poderosas, encasteladas ou fora do poder, se quedaram paralisadas prontas para virar geléia. Acostumadas com uma nação de castas, capaz de manter segmentos intocáveis perante a lei, perceberam em agonia que tanto o sol, como as barras da justiça, nasceram para todos. Mesmo com empreiteiros majestosos, que distribuíram milhões de dólares a diversos partidos políticos, amargando dias sombrios no calor de uma cela, ainda havia a percepção de que representantes públicos de alta linhagem e sua parentela estavam a salvo.

As ações da Polícia Federal na Operação Zelotes, que desembarcou agentes no escritório do filho de Lula, foi o estopim das preocupações de gelar a espinha. Ainda zonzo, Luiz Inácio culpou Dilma e sua equipe, com particular azedume ao Ministro da Justiça Eduardo Cardoso, pelo ato de lesa majestade. Ele não percebeu que o Brasil mantém, apesar dos desejos do lulopetismo, uma necessária autonomia entre os poderes, que judiciário não está a serviço do PT e que a Polícia Federal é um órgão republicano para valer.

Na visão de um brucutu em administração pública, o Ministro Eduardo Cardoso deveria dar um puxão de orelhas na PF, ordenar que ninguém confiscasse um só fio de cabelo de Lula, familiares e amigos próximos, colocando de castigo quem fosse dado a ousadias. Bobagem. Felizmente ainda não somos uma Venezuela. Aqui juízes, delegados e oficiais da lei não são obrigados a agir senão obedecendo a constituição. Foi o que aconteceu.

Por essas e outras é que muitos trincaram os dentes de pavor. Se alguém se atreve a investigar, como se fossem mortais comuns, um membro do clã Lula, o que virá agora? Será a vez de Renan Calheiros? Será dada corda ao escrutínio de Eduardo Cunha. Vão escarafunchar governadores amigos? Barões da comunicação, que fizeram o diabo com verbas do contribuinte, estão em perigo? Que Brasil é este? Nunca antes neste País se viu um sacrilégio de tal monta.

Agora sim, dirão muitos dos proeminentes da República em tom menor, Dilma há de cair. Cutucou os filhotes de onça com vara curta, muito curta. Não é de se espantar que tenha realizado um socorro rápido, mostrando proximidade e declarando Lula como setentão mais enxuto e importante para os destinos do planeta. Foi suficiente? Depende.

Suficiente para quê? Para impedir que Luiz Inácio adote um golpe de Estado e tome o poder utilizando o propalado exército de João Pedro Stédile? Duvido. As Forças Armadas previstas na espinha dorsal da lei não admitiriam a ousadia. Para rechaçar uma campanha, desta vez patrocinada por Lula, em prol do impeachment? Improvável. Lula está acuado de tal forma que teme uma figura hostil no trono do poder. Dilma pode até rosnar. Mas não tem como morder na canela do dono. Para o bem ou para o mal, ela é filha e neta do lulopetismo. Além do mais, ao ouvir os conselheiros pragmáticos, Lula perceberá que o erro não foi de Rousseff, mas dos pimpolhos que, ao que tudo indica, deixaram rastros nas operações nebulosas e questionáveis.

Amargando míseros 8% de aprovação, Dilma não tem nada a perder e muito a ganhar deixando transparecer que mantém um governo que combate a corrupção doa no Lula que doer. É o único caminho para encontrar um eixo de ética e capacidade administrativa. Todo o resto entrou para o ralo capaz de enterrar qualquer chefe de governo. No mais, ao bater no peito e dizer que em seu governo não existiu corrupção deslavada, Dilma dá o tom mostrando que pode ser capaz de jogar todo o lixo no colo do antecessor.

Como se percebe, o filme que revela as paracutacas nacionais ganha novos contornos. Tanto que em todos os botecos suspira uma pergunta que não se cala: a fortuna de lulinha será escrutinada? Quem viver verá.

Quanto ao título do artigo, liga não. Peixes são vendidos vivos ou mortos. O meu está defunto declarado. Próprio para o consumo. Isso esclarece tudo? Praticamente nada. A exemplo do Brasil em que as coisas estão apenas começando a clarear. Ou feder como peixe morto.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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