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Diálogos de um burro com as engenhocas

Ter os documentos furtados é uma rotina que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro. O pior azar é tentar resolver os problemas no cancelamento de documentos, recuperação de dados e/ou possível ressarcimento com um seguro que se torna impossível receber.

O cidadão liga e enfrenta a seguinte Via-Crúcis: “Se for para comprar um serviço, digite 1. Caso deseje aumentar o seu crédito, digite dois. Se pretende verificar o saldo, aperte 3”. As infinitas opções vão até a versão 9 e, somente depois dela, é que aparece a possibilidade de indicar roubo do cartão. E, assim sendo, é exigido o número do mesmo, a data de vencimento, o número da conta do banco e um maldito código no verso do cartão. Ora, para se ter tudo isso, o sujeito tem que manter uma cópia do documento em algum lugar seguro.

Mas, depois de muita luta, é possível falar com um ser quase humano, que vai lhe pedir o seguinte: o numero do CPF, da identidade, data do nascimento, até que aí tudo bem, dá para decorar. Mas logo chega o pior dos cenários: data do nascimento, dia e ano, dos pais. Se errar, começa tudo de novo.

Aposto que você não sabe o ano exato do nascimento de seus genitores! Sabe? Parabéns. Se for um pretenso seguro, digo pretenso porque funciona bem mesmo só na hora de pagar, o caldo pode piorar muito.

– O senhor pode me informar a data, horário, nome do estabelecimento e o valor da última compra?

– Tais brincando?

– Senhor, mais respeito, não estamos aqui para brincar. O senhor tem ou não a informação?

Ok. Vou puxar na memória. Foi no Armazém do Cerrado, ontem, dia primeiro, R$ 235,00 reais, às dez horas da manhã.

– Senhor, desculpe-me, o valor não bate. Não tenho como processar sua reclamação. Ligue quando tiver os dados corretos. Dito isso, desliga. Que ódio.

Entro em contato com o estabelecimento, pego o valor, que na verdade era de R$ 235,50, malditos centavos, e vamos ao cansaço até conseguir falar com outro ser humano – nunca será a mesma pessoa.

Ok, passo os valores exatos, com certo triunfo pessoal.

– Senhor, desculpe. Mas o horário não bate. Como assim, filho de uma puta, quer os minutos exatos? Sim, responde calmamente, o robot treinado para manter a fleuma. É uma informação que consta nas exigências de ficha. O horário não bate.

Pensa que o diálogo foi inventado? Que nada. O horário, depois de uma boa confabulação com o educado proprietário do estabelecimento, era às onze horas e não dez.

Liguei de volta. Claro. Questão de honra. Não deu mais. Todos os atendentes estavam ocupados depois de 45 minutos de espera. Já pensou? Pois é.

Quer uma solução? Não existe mais. Os nobres gerentes de banco, outrora tão importantes, hoje são meninos de recado que, no máximo, podem oferecer o número de telefone de uma central, localizada na divisa do Mato Grosso, cujas atendentes falam um misto de Tupi Guarani com Português  e são treinadas para ouvir palavrões e repetir calmamente: o senhor é muito importante para nossa empresa, quando tiver todos os dados, incluindo a data de sua última vacina contra coqueluche, teremos o prazer em resolver seu problema.

Nem precisa muito. Tente receber uma indenização, cancelar um contrato de TV paga ou qualquer outra ação cotidiana, vai constatar que esse diálogo, do burro, no caso em questão o cliente, com engenhocas que fingem ares de humanidade, é regra e não exceção. Espero que nunca seja preciso. É uma sensação absurda de impotência e pode levar alguns a um ataque cardíaco fulminante.

Rosenwal Ferreira Jornalista, Publicitário e Terapeuta Transpessoal

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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