Artigos

Cuba que eu vivi parte seis

Depois de minhas peripécias nos pequenos lugarejos que circundam os hotéis cinco estrelas de Varedo, decidi dar um basta e apenas descansar à sombra de um coqueiro. Mas parece que jornalista exala um odor que atrai os que desejam desabafar, criticar ou difundir idéias. Entre um drinque e outro, e após ter levado uma surra de minha esposa no tabuleiro de xadrez, costurei uma conversa muito interessante com Ruiz, um agradável barman que evitava sorrir para não mostrar os dentes estragados.
Sem rodeios, e demonstrando um nível cultural acima da média, ele afirmou que era um “fã as avessas” do escritor brasileiro Fernando de Morais. Não foi difícil entender que era uma forma educada, um alto refinamento, de mostrar um desagravo ao badalado escriba brasileiro. Ao desdobrar o raciocínio ele explicou, de forma didática e concisa, o motivo de seu azedume.
Ao se desdobrar como um narrador investigativo, enfatizou Ruiz, o romancista brasileiro criou peças de ficção como se fossem realidade. O livro “A Ilha”, por exemplo, não tem parâmetros com a realidade Cubana. É uma divulgação quase infantil de um regime que, no apalpar dos fatos, se transformou em um socialismo sem nenhum proveito.
Intriga-me saber, continuou ele, por que Fernando de Morais não revelou todos os aspectos da aventura em Cuba, narrando os dissabores da população, as experiências fracassadas, os arroubos totalitários e, principalmente, a desilusão dos que acreditaram num sistema que fez ruir décadas de esperanças.            
O mais recente lançamento de Fernando de Morais, “Os últimos soldados da Guerra Fria”, foi amplamente divulgado pela mídia oficial dos irmãos Castro e tem um papel importante na elucidação dos fatos que envolvem a trama, mas não deixa de manter a visão romântica que protege a aura de um processo que faliu na essência.
Famoso, rico e influente, Fernando de Morais não conhece as aflições cotidianas que nos constrange. Até parece que ele aceitou ser uma espécie de embaixador honorário que só enxerga o viés que interessa aos donos do poder. Dizem que ele é um intelectual de respeito. Quem sabe um dia se decida por divulgar toda a verdade e não apenas uma parte dela, arrematou.
Depois dessa conversa, cujas frases mais interessantes eu anotei em guardanapos de papel, ele se desculpou, dizendo que falava demais, e foi limpar o seu quiosque. Logo em seguida, uma garçonete de voz rouca nos perguntou se éramos do Brasil. Ao confirmar, ela sorriu: “Eu já sabia, o professor adora desafogar com os brasileiros.”
No avião, de volta para a terrinha, me lembrei do mestre que servia água de coco. Essa mania de mostrar verdades que escondem mentiras é algo que irrita. Seja em Cuba, Brasil, Estados Unidos ou na China. Fazer o que??

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

Deixe seu Comentário

Clique aqui para comentar

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.