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Cuba que eu vivi, parte dois.

Meu primeiro artigo com impressões sobre a ilha de Cuba, versão ditadura Raul Castro, encontra-se disponível na internet no site dm.com.br, basta pesquisar utilizando meu nome. Em resumo, narrei as peripécias da viagem área, a agonia das cabines de imigração e as sofríveis condições na entrega das malas num aeroporto internacional capenga. Parei justamente no ponto em que um taxista cubano, profissional e agradável, nos conduzia por avenidas largas, limpas, no civilizado trânsito da capital Havana, em direção ao charmoso cinco estrelas Meliá, localizado na orla marítima.

O estabelecimento é um luxo encravado numa cidade que se amofina nos escombros. Tombada como Patrimônio da Humanidade, a capital se atola em ruínas. Os edifícios são apenas esqueletos de edificações primorosas, que ainda conservam aqui e acolá, a imponência arquitetônica que desaba sem nenhum socorro. Sair do hotel é ingressar no túnel de uma chocante realidade. Nada combina com as piscinas bem cuidadas, os restaurantes luxuosos e os mimos disponíveis.

A procura de um simples cartão de memória de uma máquina fotográfica, que por descuido deixei no Brasil, nos levou ao submundo de um shopping center miserável, apontado como o que existe de melhor na região. Os produtos são tão medianos e escassos que até no sertão do Piauí existe coisa melhor. Só depois de muita procura o zeloso condutor de um “Coco”, misto de moto-táxi com orelhão, conseguiu nos levar a um mocó que vendia a prosaica engenhoca à surdina. Custou uma fortuna.

Logo depois nos aventuramos a conhecer um restaurante “Sabor”, igual a dezenas de outros recentemente liberados para atuar em moldes da iniciativa privada capitalista. Foi uma delícia perceber a alegria dos “neodonos” cubanos, envolvidos na difícil tarefa de agradar sem ter condições adequadas para tal empreitada. Tudo muito simples, rústico e tosco nos detalhes. O prazer de servir foi tão sensível, que nos fez esquecer a comida sofrível, os talheres improvisados e a falta de temperos.

Ciente de que pretendíamos conhecer a verdadeira Havana, e não somente a farsa vendida aos turistas ou para o deleite dos hipócritas da esquerda raivosa brasileira – essa que participa do festim de Fidel Castro e Cia Ltda -, o inteligente motorista nos mostrou com prazer o lodo em que sobrevivem os filhos da tirania.

No interior dos edifícios, caindo aos pedaços, famílias inteiras, muitas sem nenhuma afinidade, sobrevivem em moldes de favela em que falta tudo. Há escassez de comida, roupas, condições de higiene e esperança. Ninguém mais acredita no viés comunista e fala isso claramente.

Não são tristes como era de se esperar. Conservam uma indecifrável ventura interna. Chega a ser contagiante a alegria de conseguir revelar a penúria sem o risco de serem presos. Com um sorriso largo, Luís desabafou: “Hoje não teria cadeia para colocar todo mundo”.

O leitor não pode ter a falsa impressão de que não foi divertido. Valeu a pena. As incursões pelo submundo de Havana revelaram facetas inacreditáveis. Os carrões antigos, no mais valioso museu automobilístico a céu aberto do planeta, são algo fantástico. Os orgulhosos proprietários adoram tirar fotografias e são de uma cortesia gratificante.

Depois dessas experiências, o guia improvisado nos indagou se topávamos esquadrinhar os arredores do “ponto zero”. Uma área delimitada em cujo epicentro, num dos mais bem guardados segredos do país, residem nababescamente os irmãos ditadores. Contudo, essa é uma história para o próximo artigo.

Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário.

E-mail: [email protected]

Twitter: @rosenwalf

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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