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Crianças usadas como bucha de canhão

Para quem não sabe a expressão que fala em gente sendo utilizada como “bucha de canhão”, tem origem nas guerras em que se utilizavam os gigantescos e ultrapassados trabucos, na linha de frente da batalha, onde caia a bucha, morria o maior número de soldados. Daí que se tornou comum dizer que toda tarefa desgraçada, onde uma classe só amarga sofrimento, é chamada de bucha de canhão.

Por conta de gente inescrupulosa, que está se lixando com o que afeta milhares de alunos, estamos tratando nossas crianças como almas sem nenhum valor. As greves que pipocam em vários Estados da Federação, entre eles o de Goiás, se firmam numa queda de braço com fortíssimo componente ideológico sob o manto de reinvindicações justas.

Antes que as patrulhas venham dizer que somos contra o pleito dos professores, vale deixar bem claro que não se trata disso. Se o País fosse sério, o que já está provado que não é, nossos mestres teriam salários e condições de trabalho em parâmetros ideais. Somos a favor disso.  O nó da questão se enrasca em pedidos que não podem ser atendidos, por mais justos que sejam, e na certeza de que as paralisações só prejudicam alunos e seus familiares.

Nenhum prefeito, governador ou chefe de Estado, tem prejuízos com meses de ausência de instrução nas salas de aulas. Seus filhos ou netos estão garantidos nas ilhas de excelência do ensino particular. Quem se atola na ignorância, no desmazelo de matérias que não serão atendidas, são os humildes, os carentes que não podem arcar com o custo das escolas particulares.

Quando os sindicatos se engalfinham, com turrões de um lado e outro, em quizilas com os mandatários de plantão, o sofrimento recai apenas na arraia miúda, que termina sabendo cada vez menos, numa sociedade que exige cada vez mais. A equação é de uma maldade ímpar.

Querendo, e isso é perfeitamente factível, os professores que se recusam a aceitar acordos bem que podiam ser criativos, chamando a atenção da mídia, sem prejudicar os alunos. Exemplo: que tal chamar todo mundo para assistir aulas com nariz de palhaço? Ou oferecer conhecimentos, na base do revezamento, nas imediações do paço municipal ou do Palácio do Governo? Sei lá, contrata-se uma boa agência de publicidade para encontrar outras soluções.

O que causa revolta é constatar que as escaramuças estão negligenciando com o mais importante: os alunos relegados ao abandono. É algo traumático, num sistema injusto com os que amargam o ensino público, a certeza de que todos os anos vão ocorrer paralisações. Nada adianta recorrer a cotas, facilidades e outras artimanhas, se o aprendiz com menor poder aquisitivo ficar sempre à mercê dos humores de partes que certamente vão entrar em conflito.

É fato que nesse multifacetado e complexo ambiente, existe a culpa de quem administra. Muitas vezes uma babel de irresponsáveis que não enxergam os prejuízos na ruptura das funções cotidianas de uma sala de aula. O que não lhes afeta pode se arrastar em soluções para depois de amanhã.

Mesmo que educadores e psicólogos, de todos os matizes, apontem que o ensino fundamental, sem rupturas na sequência de ensino, tem mais importância para a vida adulta do que outros investimentos, optamos, de forma egoísta, por assassinar o  desenvolvimento de gerações indefesas. A tal “pátria da educação”, termina sendo apenas um hipócrita slogan de palanque. Depois lamentamos os altos índices de criminalidade.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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