Internacional

Candidatos a presidente pregam união e paz em meio a tensão política na Bolívia

Supporters of Evo Morales protest last year after he was forced to flee the country, in Cochababamba, Bolivia, Nov. 14, 2019. The country’s election on Sunday, Oct. 18, 2020, is widely viewed as a referendum on the 14-year political project of Evo Morales, a towering figure in Bolivian politics who lifted many out of poverty but whose policies and tone divided the country. (Victor Moriyama/The New York Times)

LA PAZ – Com um clima polarizado, a economia enfraquecida por causa da pandemia e temores de uma nova convulsão social, os bolivianos foram às urnas neste domingo, 18, com os candidatos pregando paz. A eleição presidencial ocorre quase um ano após uma disputa que, com suspeita de fraude, acabou na renúncia do presidente Evo Morales e sua fuga do país.

A votação, em meio a um cenário de acirramento político, ficou mais tensa poucas horas antes da eleição, quando o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) decidiu que não iria mais divulgar uma apuração preliminar para evitar especulações.

Segundo a corte, a decisão veio pela falta de garantias de que os dados oferecidos pelo sistema Divulgação de Resultados Preliminares (Direpre) sejam iguais ao resultado final, que tem a apuração mais lenta. O presidente do TSE, Salvador Romero, disse que o sistema de apuração trará um resultado “seguro, confiável e verificável”.

Luis Arce, ex-ministro de Evo e tido como responsável pelo “milagre econômico” da gestão de Evo, e Carlos Mesa, ex-presidente de 2003 a 2005, despontavam como favoritos nas pesquisas que projetavam um segundo turno, marcado para 29 de novembro.

Os dois principais candidatos reclamaram da medida do TSE, mas acenaram para uma trégua após uma campanha marcada por fortes ataques entre ambos.

Arce afirmou que a iniciativa da corte eleitoral levantava dúvidas sobre os resultados, mas evitou críticas mais assertivas. Após votar em uma seção eleitoral do colégio Miguel de Cervantes, no centro de La Paz, ele disse que seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), voltará ao poder pelo voto. “Não tomamos o poder com armas, tomamos o poder por essa via democrática.”

Coordenando a campanha de Arce da Argentina, onde vive exilado, Evo pediu que o resultado das eleições “seja respeitado por todos”. “É muito importante que todas e todos os bolivianos, além dos partidos políticos, recebam com tranquilidade cada um dos votos, tanto nas cidades como nas áreas rurais, e que o resultado das eleições seja respeitado”, disse em declaração lida diante da imprensa em Buenos Aires.

Bolívia Eleições
Mulher boliviana se apresenta em colegio eleitoral na cidade de Parotani, a 50 quilômetros de Cochabamba. Foto: EFE/Jorge Ábrego

Já Mesa, candidato da Comunidade Cidadã (CC), pediu à população para que votasse como parte do compromisso do país com a democracia. “Nosso compromisso com a democracia é inalienável e esse compromisso não pode ser expresso de outra forma se não pelo voto”, disse Mesa, após votar na região de Mallasilla, também em La Paz.

Sobre a mudança na divulgação dos dados, ele pediu aos eleitores paciência. “Não é o ideal. Vamos ser pacientes e pedimos à população que o seja.”

As eleições na Bolívia devem escolher, além do presidente e vice, novos representantes do Legislativo para os próximos cinco anos. Pelo menos 35 mil policiais e militares fizeram a segurança na votação.

Mesmo com o aceno de uma trégua, a população temia ontem uma repetição do que ocorreu no ano passado depois de divulgado o resultado, quando conflitos nas ruas deixaram pelo menos 20 mortos. “Tenho medo do pior. Há boatos que nos assustam”, disse Virginia Luna, de 41 anos, em frente ao colégio Agustín Aspiazu em La Paz.

“É o fim de um ciclo do governo de Evo Morales e da crise política. Espera-se agora um fortalecimento das instituições”, disse o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Católica Boliviana.

Pandemia afeta eleição

No dia da eleição, Deni Blanco costumava vender comida do lado de fora das seções de votação em La Paz. Era uma maneira fácil de ganhar algum dinheiro extra. Neste ano, porém, por causa da pandemia do novo coronavírus, ela mudou de ramo: vendeu canetas.

“Minha irmã viu na TV que desta vez cada eleitor deveria trazer sua própria caneta para votar. Então, ela disse: ‘Por que não as vendemos?’”, disse Blanco, em um local de votação na Ciudadela Ferroviaria, região pobre de La Paz. Ela vendia seu produto por 1 boliviano (cerca de R$ 0,80) cada e, após duas horas de votação, afirmou que havia comercializado pelo menos 50 unidades.

De acordo com números oficiais, 8.463 bolivianos morreram em decorrência da covid-19. O país tem a 7.ª maior taxa de mortalidade per capita do mundo pela doença.

Os paceños, como são conhecidos os moradores de La Paz, disseram que estavam se sentindo seguros ao votar com os protocolos estabelecidos pelas autoridades de saúde, mas que foi difícil manter o distanciamento em meio a filas de até 3 horas nas seções de votação. “As pessoas não respeitam o distanciamento social”, disse Eric Echevarria, que votou pela primeira vez neste ano.

Segundo a determinação do governo, para votar, os eleitores teriam de estar de máscaras. Já os funcionários da Justiça Eleitoral tinham de usar também uma proteção acrílica na frente do rosto.

A pandemia também mudou os horários de votação. Antes, os cidadãos costumavam votar a qualquer hora entre 8 horas e 17 horas. Com a pandemia, os eleitores foram divididos em grupos, com parte votando pela manhã e parte durante a tarde.

Luis Arce MAS Bolivia
Candidato pelo MAS, partido do ex-presidente Evo Morales, economista Luis Arce vota em La Paz. Foto: Luis Gandarillas/ AFP

Os bolivianos também costumavam colocar os dedos em uma tinta roxa para tirar a impressão digital após votar. Dessa vez, o próprio eleitor deveria usar uma haste com algodão para passar a tinta, embora nem todos tenham seguido a regra. “Pessoas como eu podem molhar o dedo direto na tinta, afinal não estou doente”, disse Deisy Mamani, eleitora da zona sul de La Paz.

A eleição de domingo havia sido adiada duas vezes por causa da pandemia. A primeira data era maio deste ano. Com o vírus se espalhando pelo país, que hoje tem quase 140 mil casos, a disputa foi adiada para setembro e, depois de novo pico de notificações.

No começo de setembro, o governo adicionou mais de 1,6 mil mortes pela doença em um só dia na contabilidade oficial, o que levantou suspeitas que esses óbitos tinham sido descartados deliberadamente. O Ministério da Saúde disse, porém, que a atualização veio após os laboratórios da região de Santa Cruz liberarem resultados que estavam represados./ AFP. REUTERS e EFE

fonte: Jornal Estadão

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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